Um otimismo ingênuo pode ser muito
prejudicial. A melhor receita para vivermos de modo equilibrado é desenvolvendo
uma visão realista do mundo à nossa volta. A pessoa realista é capaz de pensar
positivo ao mesmo tempo em que contempla a realidade como ela é.
Algumas propagandas institucionais,
aquelas que falam bem de certos estados do Brasil ou que falam muito bem de
alguns eventos que a sociedade brasileira (ou o Brasil!) está prestes a
vivenciar, ou ainda que comemoram resultados mirabolantes, podem nos enganar!
É lindo e faz bem acreditar no país.
É sinal de patriotismo e de colaboração com o desenvolvimento humano ter uma fé
operante no sucesso de nossas instituições políticas e sociais, mas é muito importante
que não percamos nosso senso crítico. Há incompatibilidades que precisamos ser
capazes de detectar.
Por que as escolas públicas mostradas
nas propagandas são tão mais perfeitas que aquelas onde estudam nossas
crianças? Por que nessas escolas das propagandas os professores e alunos estão
tão mais felizes que os professores e alunos que conhecemos em nossa dura
realidade?
Por que os programas sociais sempre
funcionam bem nas propagandas e, no fundo, mesmo que as propagandas tentem nos
convencer do contrário, perto de nós temos tanta dificuldade de vê-los
funcionando de modo eficaz?
Por que os policiais dos comerciais
sentem-se tão felizes e são tão sorridentes, se ao nos deparamos com pessoas
que lidam na área da Segurança Pública, falta-lhes até papel para imprimirem os
relatórios de seus trabalhos? Faltam-lhes condições básicas de dignidade humana
para prestarem os serviços que são de sua competência?
Por que vemos tantos profissionais da
educação, da saúde, da segurança pública, entre outros, adoecendo e vivendo sob
o poder de fortes medicamentos para dormir, para combater a ansiedade ou a
depressão?
Que resultados são esses alcançados
pela Educação pública que não refletem a forma como nossas crianças se
comportam ou como conseguem acesso a níveis efetivamente melhores de qualidade
de vida?
Que benefícios os grandes eventos
mundiais – Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas – trazem para as
pessoas simples da sociedade, além da momentânea sensação de bem estar por
sermos o foco das atenções?
De modo concreto, em que a vida das
pessoas se tornará melhor a partir da construção e ampliação de grandes
estádios e outras obras caríssimas para receber eventos no Brasil? É justo
investir tanto dinheiro público em um evento particular como uma Copa? Quem
paga essa conta?
São confiáveis os discursos que
sustentam que tudo isso é bom para a economia do Brasil e bom para a sociedade?
Para quem é realmente boa a imagem de perfeição que se cria das instituições e
desses eventos? Alguém tem interesse na criação dessa imagem de Estado/País
perfeito?
É preciso abrir os olhos. Tem gente
usando os meios de comunicação para nos enganar, usando imagens bonitas e
falando o que gostaríamos de ouvir.
Há muitas mentiras travestidas de
verdades. Há muitos lobos em peles de cordeiros. É preciso nos alegrarmos com
os bons resultados e curtirmos os bons momentos da vida, mas jamais podemos
perder a capacidade de criticar a realidade que está à nossa volta. Nisso nos
tornamos melhores, mais realistas e mais felizes.