A chegada do Natal, 25 de Dezembro,
tem o poder de sensibilizar os corações e de deixar muitas emoções afloradas.
Presentes, encontros, pedidos de perdão... vontade de recomeçar e de ser melhor...
grandes expectativas!
A proposta desse artigo é pensar na
humanidade a partir da representação simbólica que Jesus, o aniversariante,
pode significar para nós. Não se trata de uma abordagem teológica, tão pouco
cristológica, ao contrário, o foco é a humanidade e não a divindade de Jesus,
pois a celebração do natal (ou se você
preferir, a comemoração do natal) traz inevitavelmente à tona, a relembrança da
história de um homem que marcou decisivamente a história do mundo por ter
proposto uma leitura das relações humanas de modo radicalmente diferente de
tudo aquilo que existia até então. Do ponto de vista antropológico e humano, ou
seja, sem priorizar a fé como instrumento de interpretação, que implicações tem
o nascimento desse homem para nós hoje?
O nascimento de Jesus pode nos fazer
pensar na importância da dignidade humana. Na simplicidade e na fragilidade de
uma vida humana recém-nascida, esconde-se um grande mistério: a humanidade
inteira está presente na pequena e indefesa vida que desabrocha para o mundo e
precisa de amparo para crescer e desenvolver. Nesse sentido somos cúmplices no
cuidado com a vida humana e isso implica em nos sentirmos responsáveis pela
preservação dessa vida e da dignidade presente nela. Nossas ações precisam
preservar a vida e a dignidade, a fim de contribuir com a exaltação da
humanidade, afinal, a mesma humanidade (essência!) está presente em todos.
O contexto do nascimento do
aniversariante em questão, nos faz lembrar também das diversas condições de
vulnerabilidade nas quais nascem e vivem diversas pessoas. A rigor, podemos
dizer que o humano é vulnerável por essência, mas há situações de
vulnerabilidade que precisam ser denunciadas e convertidas, pois fazem perecer
a dignidade e a vida. As crianças precisam de carinho e amor (antes de
presentes de natal); os idosos demandam paciência e cuidado; as mulheres são
dignas de tratamento respeitoso; os trabalhadores fazem jus a seus direitos; as
pessoas precisam de acesso à moradia, comida, água tratada, atendimento médico,
remédios etc. Aquele bebê nasceu em condições vulneráveis e, ao lembrarmo-nos
de seu nascimento, precisamos combater as precariedades à nossa volta, independentemente de termos fé ou não
na divindade, pois as mencionadas condições de vulnerabilidade afetam a
humanidade, antes de ofenderem à
divindade.
Por fim, o cenário do nascimento
daquela criança pode nos fazer refletir acerca do permanente e do transitório.
Há coisas que indicam a essência; há outras que, embora interessantes ou até
importantes, podem não existir sem comprometer a dignidade e a vida. O afeto, o
cuidado e o calor humano são permanentes; a marca dos presentes, o glamour da “maternidade”
e as formalidades são transitórios. Se for possível ter o transitório, tudo
bem, mas não temos direito de negar o que permanece por não termos condições de
oferecer o que é passageiro, ou seja, as relações humanas, simbologia do que
permanece, é algo que todos são capazes de oferecer e receber.
Celebrar ou comemorar o natal é,
portanto, se ocupar do cuidado com a dignidade humana que se encontra ferida em
nós mesmos ou em pessoas próximas de nós; é perceber situações vulneráveis que
ferem a vida e lutar contra elas; é optar por aquilo que o tempo e a ferrugem
não são capazes de corroer. FELIZ NATAL!