A existência de líderes capazes de
despertar a admiração, especialmente dos jovens, parece estar em crise. Temos
acompanhado a situações questionáveis e preocupantes, pois cresce entre nós a idealização
de pessoas cuja liderança funda-se em uma história incapaz de justificar a
influência que tais líderes exercem sobre as pessoas.
Crianças, adolescentes ou jovens que
manuseiam bem certas ferramentas tecnológicas tornam-se grandes referenciais. Tornam-se
ídolos de número expressivo de seguidores. Passam a exercer domínio sobre seus
admiradores; a serem citados e invocados como líderes. Tornam-se heróis;
figuram como paradigmas a serem imitados ou representam a síntese da pessoa que
"todos" gostariam de ser;
uma espécie de ideal a ser alcançado, mesmo que por meio de grandes
sacrifícios!
De um modo geral, a consagração
desses líderes dos novos tempos se dá
por meio do crescimento do número de seguidores. Quando avaliamos as razões que
levaram à promoção de tais lideranças temos muita dificuldade de entender,
efetivamente, o que ocorreu, pois na maioria dos casos (por amor e respeito ao
debate não vou dizer todos!) as justificativas são fúteis e desprovidas de
quaisquer fundamentos plausíveis.
Alguns compõem versos de pouquíssima
qualidade; outros usam roupas ou adereços extravagantes; outros ainda dão dicas
– meras opiniões subjetivas – sobre coisas que desconhecem e jamais
vivenciaram.
A crítica não se direciona ao direito
– fruto da liberdade de expressão – que todas essas pessoas têm de se
manifestarem do modo como acham mais conveniente. De fato, todos têm liberdade
de se expressarem como julgam melhor. Essa é uma sagrada garantia assegurada
pelo Estado Democrático de Direito em que vivemos.
Para ser claro, a crítica está
voltada para os seguidores. O que tem levado as pessoas a depositarem suas
expectativas em líderes tão fracos? Por que tanta gente deixa de seguir sua
própria razão, de construir sua autonomia para fazerem de suas vidas uma reprodução
de perfis tão vazios?
Quando atribuímos a esses líderes um
valor que eles não têm estamos nos nivelando por baixo e optando pela
estagnação de nosso ser. Isso é grave, pois nossa existência adquire sentido,
entre outras coisas, quando somos autônomos na condução das escolhas de nossa
vida.
Por força da lógica que rege a
internet, por influência do mercado ou por diversas outras razões muitas
pessoas se deixam levar por propostas que são incompatíveis com sua identidade
e com sua verdadeira forma de pensar.
Precisamos ficar atentos e nos
perguntar: Que valores estamos defendendo quando nos tornamos seguidores de
certos líderes? O que estamos construindo para nossa vida ao escolhermos como
paradigmas líderes vazios e superficiais? Em que sociedade esperamos viver, no
futuro, ao reconhecermos em comportamentos fúteis um valor muito superior ao
que tem?
Não se trata de sermos conservadores
ou fechados às novas tecnologias. Muito menos de defendermos que somente no
passado existiam coisas boas, mas trata-se de atribuirmos a cada coisa,
inclusive às inovações, o valor que de fato elas têm.
As futilidades ou brincadeiras devem
ser tratadas como tais. O uso de certa figura como referência é coisa séria e
precisa decorrer da reflexão e da crítica.