Segundo uma conhecida parábola,
quando vamos fazer algum comentário acerca de alguém ou de algum movimento
social, devemos submeter nossa fala a três peneiras: peneira da verdade, da bondade
e da utilidade.
Precisamos ter certeza ou muita
segurança a respeito da veracidade
daquilo que vamos falar para não exercermos injustiça com relação ao ouvinte,
que seria vítima de um comentário mentiroso ou sem fundamento, nem com relação
à pessoa de quem falamos.
É importante praticarmos muita
sinceridade na utilização dessa primeira peneira, pois optar por falar a
verdade não é sinônimo de se comprometer com uma verdade própria; não basta que
você acredite em algo para garantir a veracidade. A questão aqui é mais ampla,
pois a veracidade deve ser medida de modo objetivo e expressar adequação (muita
aproximação, pelo menos!) entre o que se fala e o fato.
Mas a veracidade é apenas a primeira
peneira. Há coisas (e muitas!) que embora verdadeiras, precisam passar pelo
crivo das outras avaliações: nem tudo que é verdade precisa ou deve ser falado,
por isso devemos nos perguntar sobre a bondade
daquilo que iremos falar.
Comentar o tal assunto é uma coisa
boa? Ou ainda: a quem farei o bem ao comentar sobre esse assunto? Eu me torno
uma pessoa melhor quando falo com alguém determinado assunto sobre alguma
pessoa? A pessoa que me ouve se torna melhor ao tomar conhecimento do assunto
que irei comentar?
A questão aqui é usar a palavra, as
conversas, o tempo que temos com as pessoas para edificar, para fazer o bem, ao
invés de usá-lo para denegrir e destruir. E vale lembrar: há coisas que são
verdadeiras e que não passam pela peneira da bondade e se é assim, devemos não
falar sobre elas para reafirmarmos nosso compromisso de sermos pessoas de bem e
a serviço da bondade.
Enfim, se algo é verdadeiro e bom
resta perguntar se é útil falar sobre ele. O que essa informação vai
acrescentar na vida da pessoa que me ouve? Que utilidade tal informação terá
para a pessoa que me ouve? Em que a vida ficará mais fácil – seja a minha ou a
de meu ouvinte – quando eu falar aquilo que pretendo?
As conversas que não passam por esses
três critérios de avaliação geralmente são danosas e maléficas; machucam as
pessoas e perpetuam intrigas; abrem feridas ou as impedem de cicatrizar;
semeiam a discórdia; sufocam as sementes da esperança e da reconciliação;
expõem a dor e a vergonha de quem já se encontra sucumbido pelo peso de algum
problema grave.
Há em todos os setores quem conversa
demais: há líderes religiosos que manipulam fatos e palavras para potencializar
as futricas; há professores que se acostumam a terem apenas (ou quase sempre)
palavras negativas sobre seus alunos; há noticiários que não avaliam a
qualidade de suas fontes ao divulgarem suas "verdades".
Por fim resta uma pergunta: o que
devemos fazer quando somos vítimas de alguém que ignora a existência e o uso
das três peneiras?
Se for uma pessoa próxima a nós
devemos levá-la a perceber a importância de ser mais criteriosa quando for
falar algo de alguém; se isso não for possível, devemos buscar rotas de fuga:
sair de perto; mudar de assunto; demonstrar desinteresse...
Falar menos e ouvir mais, eis uma
grande sabedoria a ser buscada com zelo e ternura. Afinal, é bom que toda pessoa
seja rápida para ouvir e lenta para falar!