Em uma
canção chamada "vaqueiros
urbanos" o compositor Zé Geraldo afirma: "nossos filhos vão saber que a distância nos atalhos nem sempre é
menor". É sobre essa ideia que se pretende refletir neste artigo.
De um
modo geral o ser humano tem uma tendência natural pela escolha de atalhos. É a
lei do menor esforço. Por que gastarmos mais energia para alcançar um alvo
quando é possível alcançá-lo com menor esforço? Para que andar muito se é possível
chegar ao destino andando menos?
Muitas
vezes, evitar o desgaste de energia é saudável, natural e recomendável. O
problema surge quando o atalho é sinônimo de tomar o caminho aparentemente mais
fácil como forma de não enfrentar de modo honesto os desafios que a vida nos
apresenta. Os atalhos, nesse sentido, significam a satisfação imediata de
interesses ou necessidades que deveriam ser vivenciados ou alcançados de maneira
mais trabalhosa ou complexa; atalho, nesse sentido, seria uma espécie de fuga
mal sucedida.
É muito
comum nos depararmos com discursos favoráveis à tomada de atalhos falsos que
levam seus caminhantes para longe de seus objetivos:
As campanhas publicitárias
(propagandas) fomentam o consumismo irresponsável baseadas na promessa de que
consumir é ser feliz: atalho; Drogas (lícitas e ilícitas) garantem que a
sensação momentânea que causam é mais benéfica que os prejuízos e perdas que
proporcionam: atalho; pregações religiosas mercantilizam a fé sob o pretexto de
que Deus é solução manipulável, instantânea e substitutiva da ação humana:
atalho; convicções pessoais garantem que o "jeitinho", o não
cumprimento do dever (especialmente da lei), a corrupção em pequenas coisas, a
omissão... não gerarão impactos negativos para a vida social: atalho.
As escolhas que nos eximem de
responder (pagar o preço) pelas consequências do que fazemos ou nos isentam de
enfrentar o inevitável representam atalhos. O bom senso nos indica que os
caminhos "mágicos" nos distanciam da realidade e paradoxalmente nos conduzem
para longe do alvo almejado: caminhamos com a sensação de que estamos indo na
direção de nosso objetivo, mas nos afastamos dele.
O ser humano não nasceu para sofrer
ou para buscar os caminhos mais difíceis, porém é inegável que a vida exige
enfrentamentos sérios e disposição para arcar com os preços das escolhas que
nos conduzem de modo estável aos objetivos mais significativos da existência.
Os atalhos podem ser opção por
caminhar com menos eficiência na direção daquilo que realmente buscamos ou pior:
por caminhar para longe ou até para o sentido contrário daquele que queremos
chegar.
Fugir de
atalhos que não nos levam aos destinos que realmente buscamos é sinal de
colocar em prática uma vida pautada em valores e virtudes que não promovem a
satisfação rápida das vontades e interesses, mas garantem significados mais
consistentes para a vida.
Ao contrário do que parece, a vida se
torna mais leve para quem caminha pelas estradas que conduzem ao destino que
almejam, pois os passos não são desperdiçados e o esforço é recompensado com a
certeza de que estamos cada vez mais próximos do que buscamos.