A corrupção não é algo que existe
somente fora dos homens, mas antes e acima de tudo, dentro.
Cada vez
mais vemos as pessoas ficarem indignadas com os escândalos de corrupção. Na
verdade, eles vêm de toda parte: das empresas públicas; dos órgãos da
administração pública direta; do poder judiciário e do legislativo; das
delegacias e quartéis; das empreiteiras e bancos... enfim, das instituições em
geral. Somos tomados pela nítida sensação de termos instituições essenciais e
estruturalmente corruptas.
Pior fica
a análise quando nos confrontam com a tese de que tais traços de corrupção se
explicam por nossa herança histórica. Nesse sentido afirmam que os primeiros
colonizadores e exploradores que vieram para o Brasil eram gente da pior
espécie.
Atribuir as causas da corrupção às
instituições ou a supostas leituras pejorativas da história pode promover um
conformismo que contribui para mascarar a realidade a respeito deste assunto,
pois, cria uma separação entre a teoria e a prática, ou seja, as pessoas ficam
tentadas a pensarem que a corrupção está sempre fora delas; que apenas os
outros praticam atos corruptos; que a corrupção consiste em atos gigantescos...
as pessoas perdem a capacidade de perceberem a importância de atos corruptos
praticados por elas.
Precisamos nos perguntar, com
franqueza, sobre a forma como nos comportamos quando somos confrontados com a
possibilidade de escolher alguma coisa ou com a necessidade de arcarmos com a
consequência de nossas ações. Devemos colocar nossas práticas diante de um
espelho a fim de avaliarmos em que medida agimos corruptamente, mesmo que nas
pequenas coisas do cotidiano.
O motorista que oferece suborno ao
guarda de trânsito e o guarda que aceita ou pede o suborno praticam corrupção;
o aluno que “cola” na prova ou que coloca seu nome em um trabalho que não
participou, pratica corrupção; o profissional que não cumpre adequadamente com
sua função e deixa de produzir quantitativa e/ou qualitativamente como deveria
e poderia, pratica corrupção; o empregador que faz vistas grossas para não
pagar ao empregado seus direitos, pratica corrupção; o candidato que compra o
voto do eleitor (com qualquer tipo de moeda, inclusive com promessas
irrealizáveis) e o eleitor que vende o voto, são igualmente corruptos...
É urgente ampliarmos nossa leitura
sobre o sentido da corrupção. Não é possível desejarmos uma sociedade melhor e
menos corrupta sem levar em conta que os pequenos atos de corrupção praticados
no dia a dia ferem e inviabilizam a construção de relações sociais justas,
respeitosas e equilibradas.
O discurso a respeito da importância
da honestidade e as críticas contra os atos corruptos que vemos noticiados
todos os dias nos meios de comunicação precisam nos fazer refletir sobre nossas
ações. Precisamos ser cada vez mais honestos e isso deve ser uma atitude
pessoal. Não haverá mudança se apenas esperamos a honestidade no comportamento
do outro; se julgarmos que nossas ações, por serem pequenas e sem repercussão
externa, são aceitas e justificáveis.
Dificilmente veremos um grande
escândalo de corrupção praticado por alguém que tenha começado sua “carreira” de corrupto em algo grande. O
“grande corrupto” começa devagar.
Treina anonimamente nas pequenas coisas da vida. E isso é um alerta: o político
desvia milhões de reais por ter condição para isso! Proporcionalmente falando,
nas condições em que você se encontra, que pequenas coisas poderiam representar
os grandes atos de corrupção dos quais você já ouviu falar e que acha absurdos?