Para
deixar de ser governado por certas oligarquias (se é que isso aconteceu de
fato!) o Brasil precisou estabelecer a ideia de que o dinheiro não poderia ser
usado para fazer política, ou falando de outro modo, a política não poderia
servir somente aos detentores do dinheiro, mas deveria comprometer-se com
outros valores e objetivos.
Usar
o dinheiro para fazer política não é visto com bons olhos nos regimes
democráticos, pois os interesses financistas levam o Estado e a classe política
para rumos diferentes daqueles que interessam os cidadãos. A utilização de
dinheiro para fazer política é vista pelos donos do capital como investimento
que gerará, no momento oportuno, lucros exorbitantes.
Quando
o sistema jurídico-político não consegue estabelecer critérios claros,
fiscalização rígida e eficiente que impeçam o uso do dinheiro no campo da
política, assistimos a uma inversão catastrófica: passa-se a usar a política
para fazer dinheiro. O que é, afinal, pior: usar dinheiro para fazer política
ou usar a política para fazer dinheiro?
O
trocadilho não pretende ser demasiado lógico, ao contrário, deseja nos permitir
refletir acerca da inevitável relação das duas situações. O ciclo é,
evidentemente, vicioso, mas precisamos perceber os malefícios que provoca, afinal,
atrelar os ideais e sonhos políticos de uma nação aos interesses do dinheiro é
sinônimo de transformar em mercadoria os valores e anseios que garantem sentido
à vida.
O
que temos visto no Brasil é a utilização da política como principal forma de
fazer dinheiro. Com raríssimas exceções, os políticos brasileiros ocupam cargos
públicos com objetivo de aumentarem seus patrimônios, de tornarem-se mais ricos
e terem mais recursos pecuniários para gastarem nas próximas campanhas
eleitorais. Ser político é estar mais próximo dos mecanismos capazes de fazer
com que se consiga ganhar mais dinheiro, ainda que tais mecanismos sejam
sórdidos, iligais, imorais e completamente distantes dos interesses republicanos
e democráticos.
A
política usada para fazer dinheiro, no sentido que estamos utilizando aqui, é
uma forma de neutralizar o verdadeiro sentido da política. É um modo de fechar
os olhos para a necessidade de tornarmos a sociedade um lugar adequado e
confortável para o maior número possível de pessoas. É contraditório e
eticamente inaceitável.
É
fundamental que fiquemos atentos a fim de não contribuirmos com essas práticas.
É necessário pensarmos nas estratégias que alimentam o ciclo vicioso entre
política e dinheiro: reeleições, dinheiro de empresas particulares para
campanhas políticas, profissionais da política etc. enquanto o dinheiro estiver
sendo usado para fazer política, a política será usada para fazer dinheiro.
Essa é uma consequência praticamente inevitável.