26 dezembro 2016

A diversidade é sinônimo de humanidade!

            A diversidade é o maior sinal da riqueza que a humanidade é capaz de produzir. Cada indivíduo é único e, portanto apto para fazer de si próprio e do mundo à sua volta algo diferente e inédito. A expectativa na uniformidade é irracional e fere a lógica que determina a natureza humana.
            As possibilidades das diferenças seguem, entre outros dois caminhos interessantes: uma autoconstrução singular a partir dos contextos vivenciados por cada pessoa; uma interpretação do mundo embasada nos pensamentos, valores e crenças que cada pessoa desenvolve ao longo da vida.
            No que se refere à autoconstrução percebe-se que cada pessoa se define a partir das escolhas que faz e das circunstâncias nas quais está inserido, ou seja, cada um de nós tem liberdade para se fazer do modo como deseja. O humano não é predestinado ser deste ou daquele modo. É legítimo que, no plano individual, as pessoas façam suas escolhas e determinem suas vidas por intermédio de tais escolhas.
            Esta autoconstrução justifica e legitima as tantas diferenças encontradas entre os seres humanos. Demonstra que não há um padrão único ou uma forma absolutamente correta que define os seres humanos, diferentemente, o que há de mais humano em nós é exatamente essa real possibilidade de não sermos predeterminados, engessados ou padronizados.
            Por outro lado, além de nos determinarmos, construímos também nossa visão de mundo. Em cada situação concreta vamos determinando nosso modo de pensar sobre as inúmeras realidades que nos circundam e aqui também se deve presumir a validade da diversidade, afinal, um mesmo fato desperta interpretações completamente diferentes em sujeitos que o testemunharam.
            Ao interpretarmos o mundo à nossa volta, criamos a cultura, a moda, a culinária; ao buscar compreender os mistérios da vida fazemos diferentes experiências religiosas; inventamos ciências, filosofias e ritos e todas estas construções estão disponíveis aos indivíduos a fim de que possam se valer delas para criar sua própria forma de pensar sobre a realidade.
            Não é razoável querer que as pessoas sejam parecidas demais ou que pensem de modo muito unívoco, pois há muitos motivos para que sejam diferentes e que tenham visões diferentes sobre o mundo, aliás, as diferenças são mais naturais, neste sentido, que as semelhanças.

            Por fim, é bom esclarecer que não se pretende defender, com estas ideias, que inexiste erro, equívoco, imoralidade; não se defende o relativismo que serve à conveniência. Em tudo é preciso ter bom senso e equilíbrio. Em tudo é indispensável considerar e respeitar o direito do outro de ser do jeito que é e de pensar do jeito que desejar pensar. Ninguém está autorizado a impor nada a ninguém com base no legítimo direito de ser diferente!           

O Estado é laico. As pessoas livres!

            A Constituição da República de 1988, lei mais importante do Estado brasileiro, estabelece que a forma de relacionamento entre Estado e Religiões é a laicidade. O Estado não pode ter preferência e não pode comprometer-se com dogmas ou doutrinas de determinada religião, ficando também proibido, ao Estado, perseguir ou embaraçar o funcionamento de qualquer experiência religiosa, ressalvado, é claro, o limite da legalidade. Em matéria de religião o Estado laico deve buscar o lugar da neutralidade: não pode apoiar nem obstaculizar o funcionamento das religiões ou a liberdade religiosa dos indivíduos que manifestam suas crenças.
Da determinação constitucional que exige a laicidade do Estado, podem ser apresentados alguns apontamentos relevantes para a vida social e para a materialização do Estado Democrático de Direito.
Uma primeira observação importante é que a laicidade não pode ser confundida com laicismo, pois este traduz uma postura de rejeição do Estado com relação aos direitos de crença. Um Estado que opte pelo laicismo está autorizado a desenvolver programas e políticas agressivas com relação às questões de fé religiosa. É um Estado que tem um posicionamento em matéria de religião: é declaradamente contrário!
Outra implicação vincula-se à percepção da laicidade como atributo do Estado e não das pessoas ou das instituições religiosas. O Estado precisa de isenção diante dos conteúdos religiosos, mas os cidadãos e cidadãs não são laicos e, portanto, podem manifestar suas crenças e opiniões com fundamentos religiosos. Há quem se confunde com relação a isso e tenta atribuir aos cidadãos a mesma força limitadora que o sistema jurídico exige do Estado. Em outras palavras, os indivíduos não perdem a legitimidade para manifestar suas opiniões de fé em decorrência da laicidade do Estado, aliás, a laicidade serve precipuamente para isto: para todos os indivíduos sentirem livres para crer e viver amplamente os conteúdos de suas crenças de forma pública.
Uma terceira consequência da laicidade é a proteção da diversidade; todas as formas de crer, desde que não se constituam de ações ilícitas ou criminosas, são igualmente legítimas dentro de um Estado laico. Não pode haver hierarquias ou preferências. Qualquer manifestação religiosa, ainda que conte com um número pequeno de adeptos, está protegida pelos reflexos da laicidade do Estado. Taxar como esquisita ou demoníaca uma forma de crer diferente da predominante na sociedade é imoral e contrário à laicidade.
Por fim a laicidade protege o direito de não crença, ou seja, a qualquer pessoa é garantido o direito de não crer em divindades; de não manifestar-se sobre conteúdos religiosos e de não participar de quaisquer cultos ou ritos de natureza religiosa. Um Estado laico protege e ampara o indivíduo em seu direito de não acreditar e de não fazer qualquer experiência religiosa.

Assim, o Estado é laico e as pessoas livres.

25 outubro 2016

Compra e venda de votos: institucionalização do mau-caratismo

Passadas as eleições municipais que elegeram os prefeitos e vereadores de nossos municípios ficam, especialmente nas cidades pequenas do interior, os comentários e avaliações dos moradores sobre os feitos das campanhas. Os moradores-eleitores se tornam especialistas na análise daquilo que viram, ouviram e vivenciaram como atores e platéia de um sério espetáculo político.
Muitos são os assuntos comentados após as eleições, mas tem um que merece destaque pela naturalidade com que vem sendo abordado: a compra e venda de votos. Inúmeras pessoas falam, como se isso fosse algo moral e juridicamente aceitável, que este ou aquele candidato foi eleito porque comprou muito voto; outras dizem que determinado candidato falava abertamente: “estou comprando votos, quem quiser vender é só me procurar!”.
Não é possível construirmos uma cidade civilizada e republicana (república é a forma de tratar os bens e interesses do Município, no caso, como públicos e separados dos bens e interesses dos políticos eleitos) tratando o processo de escolha dos representantes políticos com a falta de seriedade que aceita compra e venda de votos. Tratar o voto como um bem que não tem valor pecuniário (dinheiro!) é elemento essencial da democracia.
Do ponto de vista jurídico, comprar / vender voto é ato ilícito capaz de gerar cassação do registro da candidatura e de impedir um candidato eventualmente eleito de tomar posse no cargo. Evidenciar a compra/venda de voto não é fácil, mas havendo prova robusta basta usar os meios disponíveis no ordenamento jurídico e provocar o Poder Judiciário para que a matéria seja processada e julgada.
Numa perspectiva ético-moral a coisa se torna muito mais grave e revela algo sobre o nível educacional, cultural e ético de nossos candidatos, eleitores e cabos-eleitorais. Quando as pessoas passam a tratar como legítima a prática de compra-venda de votos, revelam despreparo para a convivência social e, via de regra, mau-caratismo, afinal, agem de modo danoso para a sociedade e, consequentemente, para si mesmas.
Alguns argumentos se levantam em defesa dos atos imorais e ilícitos: ‘todo mundo compra voto e quem não compra sai prejudicado’; ‘a pessoa pobre não sabe o que está fazendo e está tão carente que acaba vendendo o voto’; ‘política é assim mesmo, aqui em nossa cidade não vai mudar nunca’ etc.
Com todo respeito, os argumentos favoráveis à vergonhosa prática de compra e venda de voto, não passam de estratégias amenizadoras da gravidade desta conduta; são formas frágeis de fingimento ou de dissimulação; um modo de ficar com a sensação de que não está praticando uma imoralidade.

            Quem compra ou vende voto tem, neste sentido, caráter duvidoso, para ser educado e polido.

22 setembro 2016

O respeito como regra de ouro da convivência

            As relações humanas precisam passar pelo filtro do respeito para ser equilibradas. Quando se tem respeito é possível abrir espaços de convivência na diversidade e administrar as discordâncias. O respeito gera humanização, suaviza a vida e nos torna capazes de fazer diferença nos lugares por onde passamos.
            Por outro lado, a falta de respeito é degradante, pois além de diminuir a vítima revela a pequenez de quem pratica a ação ou omissão desrespeitadora. Faltar com o respeito a alguém é sempre um fidedigno auto-retrato de uma personalidade marcada pela baixa sensibilidade, pela inversão de valores ou até mesmo por algum grau de perversidade.
            O respeito passa pelo cultivo da noção ética de que as dores que doem em mim doerão também nas demais pessoas e de que os gestos que aliviam meus sofrimentos ou geram bem estar para mim, farão o mesmo com relação às outras pessoas. Não se trata de mercantismo fundado em barganhas nas quais se faz ao outro tão somente pela motivação de receber o mesmo em troca, mas de perceber que a mesma humanidade pulsa dentro de todas as pessoas.
 Não se trata também de fazer uma discussão retórica de defesa: ‘nem tudo que dói em mim, dói também no outro, pois cada pessoa é diferente’. Aqui não conta o que nos faz diferentes, mas semelhantes. Há uma incontável quantidade de situações que simbolizam desrespeito e somos capazes de saber disso com o simples exercício de nos colocarmos no lugar da outra pessoa. Pode ser que situações mais complexas exijam algum raciocínio melhor elaborado, mas de modo geral, basta colocar-se no lugar do outro.
Precisamos encarar o desafio de retomar o respeito como estratégia de convivência e saber que nossas ações ou omissões produzem impactos. Vivemos em sociedade, não estamos em estado de natureza com a liberdade de fazer qualquer coisa que tenhamos vontade. Pagamos um preço pelos benefícios da vida social.
Olhar para as pessoas que estão dirigindo a palavra a nós (professor, pastor, padre, cliente, amigo etc.) é uma questão de respeito; oferecer o lugar para um idoso, gestante ou portador de necessidade especial é uma questão de respeito; licença, desculpa e obrigado são ‘palavrinhas’ mágicas que devemos ter sempre à mão, ou melhor, na ponta da língua.
Por fim, é importante lembrar que as faltas de respeito não podem ser tratadas com indiferença sob pena de gerar desrespeito por omissão. Se, por exemplo, um aluno finge que o professor não está em sala ministrando sua aula, o professor precisa dar sinais de que isso o desrespeita, pois ficar indiferente pode significar uma omissão tão desrespeitosa quanto a ação do aluno que dissimula e finge.

Respeitar a si e aos outros é escolha. Cada pessoa precisa escolher ser mais humano e, consequentemente mais respeitoso com a humanidade de cada semelhante. É preciso pagar o preço; é urgente buscar, não cairá do céu de graça!

30 agosto 2016

Eleições municipais: renovação das possibilidades de representação (2)

            Em artigo anterior refletimos sobre a necessidade de observar se a campanha do candidato gasta muito dinheiro (dinheiro gasto em campanha eleitoral pode significar investimento com a finalidade de retorno e lucro); se o candidato tem vínculo com a comunidade (cuidado com candidatos que se profissionalizaram e vivem “pendurados” em atividades políticas); se o candidato representa nossas opiniões (cuidado com motivações não-políticas: votar porque é parente, colega, amigo). Absolutamente nada pode ser mais forte que a tranquilidade da consciência quando vamos escolher nosso candidato.
            Refletindo um pouco mais sobre a possibilidade de renovar a representação política vale pensar em escolher candidatos que demonstrem capacidade para a atividade pública. Para a função de vereador, por exemplo, é necessário que escolhamos uma pessoa que tenha habilidade para participar de debate e saiba defender ideias publicamente – quem tem muita dificuldade para expressar o que pensa provavelmente será um ‘zero à esquerda’ no plenário da câmara municipal. Ter bom senso crítico e visão mais aberta das coisas; ser uma pessoa atualizada e já possuir uma vida que dialoga com as questões coletivas e comunitárias são características essências para um bom candidato. Lembre-se: essa pessoa irá representar você. Como é que você gostaria de ser representado?
            Outra observação importante diz respeito à moralidade e à ética. A pessoa que candidata a cargo público precisa ter uma história ética. Não trata apenas de ter uma vida familiar ou religiosa exemplar. É mais que isso! Precisamos dar preferência para pessoas que não se enrolaram, ao longo de suas vidas, em situações de escândalo envolvendo o dinheiro público ou mesmo patrimônio de entidades coletivas. Se for possível devemos evitar pessoas que foram citadas em investigações de corrupção e pessoas que não são aceitas por seus grupos de origem em função de terem cometido alguma irregularidade. Para que votar em alguém que já cometeu irregularidades? Por que votar numa pessoa que deu provas de que não nos representa bem? O voto é uma procuração que passamos para alguém nos representar. Vale a pena nomear ou re-nomear um procurador-representante traidor? Isso tem sentido?

            Por fim é preciso ficar muito atento com quem se dispõe a comprar o voto do eleitor. Esse tipo de pessoa é sem caráter e não merece nossa confiança. Deve ser tratado como ameaça ao bem da coletividade. Mas atenção: há muitas formas de propor a compra de voto e nem sempre é por meio de dinheiro vivo. Às vezes é por meio de promessas de emprego; por oferta de benefícios discretos durante a campanha... a forma de perceber isso é simples: se a ação não puder ser pública e exigir segredinhos... fique atento, pode se tratar de uma proposta indecente de compra de voto, proibida pela legislação e reveladora da falta de vergonha do (a) candidato (a). Mas não sejamos injustos: tudo que se fala de quem compra voto vale igualmente para quem aceita vender. Pessoas conscientes, preparadas e de caráter não vendem voto!

26 julho 2016

Eleições municipais: renovação das possibilidades de representação (1)

            Aproxima-se a possibilidade de renovarmos o perfil das pessoas que nos representam em nível municipal. Escolheremos a pessoa que chefiará o executivo: prefeito (a) e vice-prefeito (a); e as pessoas que ocuparão as vagas da câmara municipal: vereador (a). Trata-se de um momento de grande relevância para a história de nosso país, afinal, grande número das coisas que afetam diretamente nossa vida prática, passa pelas ações/omissões das autoridades municipais.
            Nosso país passa por uma séria crise no campo da política. Nossos políticos, com raríssimas exceções, estão envolvidos em práticas imorais e criminosas além de estarem reféns dos patrocinadores de suas campanhas. Estamos pessimamente representados e, com razão, temos direito à desilusão. Mas, ainda que estejamos desiludidos, é válido manter viva uma centelha de esperança que nos estimule a pensar nas questões políticas. Assim, alguns critérios podem servir de referência para nossas reflexões.
            A legislação eleitoral proibiu, já para esta eleição, a doação de pessoa jurídica para os candidatos, mas é preciso ficar atento para que a lógica da doação não continue predominando e definindo as eleições. Se um candidato recebe altos valores em doação, ou gasta muito dinheiro próprio na campanha política, é indício de que o interesse público ficará em segundo lugar, afinal, o dinheiro aparentemente doado, funciona como investimento e será recuperado (com lucros grandiosos) quando o candidato assumir o cargo. Campanhas mais simples e baratas chamam menos a atenção, mas podem representar menos riscos para o interesse público.
            A profissionalização da vida política é um risco. Há pessoas que se especializam em disputar eleição. Toda campanha a figura aparece na praça. É preciso tomar muito cuidado com esse tipo de candidato (a) e ser crítico: a quem mais interessa a re-eleição dessas pessoas: a elas mesmas ou ao povo? Tem gente que se acostuma a ganhar o ‘salário’ de vereador ou de prefeito, mas sua história não revela comprometimento com os interesses da coletividade. E atenção: interesse da coletividade não é ficar fazendo favor para um ou para outro; é estar comprometido com assuntos que beneficiem a população geral de uma cidade.
            Outro critério importante é o da representatividade. Precisamos votar em quem nos representa de verdade. Devemos fazer uma avaliação da história da pessoa em quem iremos votar e verificar se as lutas dessa pessoa dialogam com as lutas da sociedade. Votar porque é da família; porque é compadre; porque é colega de trabalho ou vizinho; porque é da minha igreja ou de meu movimento pastoral... votar apenas por esses motivos e sem identificar algo que indique que a pessoa tem uma história de representação e de luta é um risco. Ninguém é bom político somente porque é bom na vida particular, familiar ou religiosa.

            Vamos refletir seriamente sobre esse assunto: cuidado com quem usa muito dinheiro em campanha; com figurinha repetida e com candidato bonzinho demais!

28 junho 2016

O Bom senso: guia das boas escolhas

Encontrar a justa medida não é tarefa fácil. O filósofo grego Aristóteles, ao defender que o lugar do comportamento virtuoso é o meio-termo, deixou-nos uma dica muito interessante, mas desafiante. Muitas vezes é difícil sentir-se seguro com relação ao comportamento que representa a melhor escolha no caso concreto.
A vida é repleta de situações que desafiam nossos valores. Frequentemente somos colocados diante de encruzilhadas que mexem com “convicções inegociáveis”. Nesses momentos o bom senso é a dica. Buscar uma solução que seja razoável e equilibrada torna-se a melhor recomendação.
O risco que se deve evitar, é indispensável que se diga, é o de transformar a busca do bom senso em forma de esconder interesses escusos ou de justificar ajeitamentos que beneficiem algum tipo de interesse incompatível com a própria noção de bom senso e equilíbrio. A busca do bom senso deve ser embasada e permeada pela honestidade. A desonestidade é, por si, a negativa explícita ou não, da predisposição para não agir virtuosamente: nossa discussão aqui está presumindo a boa-fé.
Outro equívoco ruim é o de associar a predisposição para busca de bom senso ao relativismo, ou seja, considerar que não há referenciais que balizam as ações humanas individual e socialmente. Buscar ou construir uma solução sensata para um conflito não é o mesmo que transformar, por intermédio da retórica, por exemplo, o que não é lícito ou moral em algo certo sob o ponto de vista de quem precisa justificar determinada ação. Relativizar os valores sob a alegação de que se busca o bom senso é suspeito, no mínimo.
Por fim, o fantasma da omissão ronda o bom senso. Omitir é assumir uma posição: aquela escondida por trás da aparente ideia de que o não posicionamento é inofensivo. Muitas vezes, é claro, o bom senso nos recomenda agir de modo brando ou até mesmo aguardar o desdobramento dos fatos, mas isso não pode confundir-se com a inércia que gera omissão diante da vida. Ficar omisso é contrário ao bom senso!

Aproveitemos as oportunidades que a vida nos concede para exercitar escolhas sensatas. Pense em seus desafios e tenha bom senso. 

29 abril 2016

Pela defesa do direito de desiludir

            A ilusão, entendida como certeza de que há o melhor no outro, desempenha importante papel na vida das pessoas. Sujeitos iludidos mantêm viva a esperança e acreditam que as pessoas, famílias e instituições estarão sempre praticando e ofertando o que existe de melhor. Definitivamente a ilusão representa um papel importante na gestão e coesão sociais.
            De certo modo somos seres de ilusão. Iludimo-nos com familiares e nutrimos a certeza de que jamais nos decepcionarão; iludimo-nos com as religiões e seus líderes certos de que são exímios cumpridores da moral e da doutrina que pregam; iludimo-nos com os políticos e seus partidos na certeza de que são justos e reais defensores das ideologias propagadas por seus discursos. Gostamos, e talvez dependamos, dessas estratégias ilusionistas para nos sentirmos mais seguros.
            Mas é preciso lembrar-se da legitimidade do direito de desilusão. Todos têm o direito de desiludir com todo e qualquer projeto, ainda que essa desilusão não deva ser tão duradoura, precisa ser vivenciada com naturalidade.
            O direito de desilusão decorre da existência inevitável das contradições que perpassam as realidades humanas. Não é possível imaginar qualquer construção racional-cultural humana que não traga consigo algumas contradições.
            Das contradições nascem as decepções e, consequentemente, as desilusões. Somente uma realidade plenamente perfeita não estaria marcada por antíteses, decepções e desilusões, de modo que desiludir-se constitui marca da vida, sendo inevitável.
            À sociedade, digo melhor, às pessoas, compete respeitar o direito humano da desilusão, pois cada pessoa, a seu tempo e a seu modo, por seu próprio motivo, irá passar igualmente por processo similar de desilusão, logo, nesse aspecto somos todos muito iguais.
            Quando uma pessoa ou um grupo passa adequadamente pelo processo de desilusão e vivencia comedidamente seu luto, fica preparada para construir novos processos ilusórios; fica apta para re-iludir-se! Iludir-se com novas promessas e possibilidades...

Reconstruir uma boa ilusão requer exercer o livre direito da desilusão.  

15 março 2016

Do Doce ao amargo do Rio

Por que ainda ocorrem tragédias tão dramáticas e devastadoras como a que surpreendeu os brasileiros com a ruptura da barragem da mineradora Samarco?

            O processo de construção da cultura humana se dá na transformação dos meios naturais; o homem se humaniza a partir da capacidade criativa que altera o habitat natural e inventa mundos novos e capazes de gerar sentidos para sua existência e melhores condições de vida. Não seria possível pensar a humanidade do ser humano fora desse contexto.
            Essa capacidade ou necessidade humana de transformar a natureza pode ser compreendida e aplicada a partir de diversos referenciais: alguns mais predadores e egoísticos outros mais conscientes e sistêmicos.
            Os modelos de utilização do meio ambiente que estão focados exclusivamente no lucro e na exploração exaustiva dos recursos naturais provocam, inevitavelmente, desastres irreparáveis, pois partem do pressuposto de que a natureza é uma escrava inerte e incapaz de cobrar os custos de ações irracionais e inconsequentes. Enganam-se: a natureza, direta ou indiretamente, faz o acerto de contas e exige que justos e injustos, culpados e inocentes paguem a conta da ganância.
            O Rio Doce não está sujo porque a lama tomou conta dele... não está feio porque ficou com cor de barro... não está gerando lutos por ter morrido! O Rio Doce está sujo, feio e morto porque foi vítima de uma mentalidade egoística de pessoas e grupos que colocam seus interesses acima de qualquer limite e, por consequência disso, se vêem no direito de passarem por cima toda forma de vida e de valores.
A “lama” é apenas um sinal visível de uma concepção que ignora o valor das diversas formas de vida. A “lama” é o resultado de um longo processo, perverso e irracional, que tem início no coração e na mente de pessoas que manipulam todas as coisas para satisfazerem seus interesses ególatras.

Livrar-se da “lama” amarga requer que comecemos a mudar a forma de pensar e sentir com relação a todas as formas de vida, não só à vida humana. Recuperar a doçura exige mudar as escolhas e os rumos.

24 fevereiro 2016

Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta

            As mudanças que a vida precisa não acontecem somente com o emprego da fé; demandam ações, movimentos, lutas. Por isso a frase que dá título a esse artigo, retirada de uma música “Até quando” de Gabriel O Pensador, pode motivar-nos a posicionamentos mais enérgicos diante de diversos aspectos de nossa realidade.
            Estamos tratando do histórico desafio de alinhar teoria e prática; fé e ação. Para simplificar, trata-se de associar teoria-fé com prática-ação. É importante que nossa prática-ação reflita nossa teoria-fé a fim de que sejam promovidas as mudanças necessárias para a vida.
            Não basta saber o que é o certo a ser feito se não colocamos em prática aquilo que está ao nosso alcance; não adianta ter fé se não agimos dentro daquilo que nos é acessível. As teorias devem provocar práticas compatíveis com elas; a fé deve potencializar as ações que materializam seus conteúdos.
            Mas é preciso tomar cuidado, pois a fé e a teoria, sem as ações e práticas que as devem acompanhar, são mais fáceis e atraentes; exigem pouco de nós e podem gerar a sensação de que fizemos nossa parte. Pior: criam a falsa impressão de que não somos responsáveis pela execução de certa tarefa. Há riscos reais de ficarmos satisfeitos demais com as empolgações geradas pela fé e pelas teorias e isso nos paralisar ao invés de estimular à realização daquilo que depende de nosso agir concreto. As mudanças não caem do céu, são construídas por mãos humanas que decidem fazer o que precisa ser feito.
            Rezar para que os filhos sejam educados e tementes a Deus; conhecer teorias sobre relacionamentos interpessoais não faz, por si só dos filhos, as pessoas que queremos que sejam. É indispensável que se pratique no cotidiano os valores e critérios capazes de transformar as preces e teorias em experiências vivenciadas pelas crianças.
            Conhecer as teorias sobre a importância de exercícios físicos; ter fé de que Deus poderá realizar obras maravilhosas na vida; saber que não é saudável que adultos e crianças passem muito tempo em contato com eletrônicos; estar convencido da validade de ser voluntário ou de participar de alguma atividade comunitária, estudar sobe educação saudável etc. são características que estão no campo da fé-teoria. De modo geral, essas verdades se realizam quando damos passos, ou melhor, o primeiro passo.
            Uma das características marcantes de quem consegue alcançar êxito é a capacidade de começar, de garantir que os sonhos e ideais sejam iniciados e perseguidos com persistência. É preciso começar... sair da inércia e agir... harmonizar ações e idéias. Isso é transformador, afinal, “não adianta olhar pro céu com tanta fé e pouca luta”. Lutar significa colocar a mão na massa! Agir! Fazer sua parte no aqui e agora da vida!

            Que ideais você pode começar a concretizar em sua vida hoje? 

13 fevereiro 2016

Campanha da Fraternidade Ecumênica - 2016: Casa comum, nossa responsabilidade


Casa comum, nossa responsabilidade
            A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 – CFE-16 – promove amplo debate sobre saneamento básico, partindo do referencial ético de que a vida deve ser cuidada em todos os seus aspectos.
            Motivada pelo versículo do profeta Amós, a CFE-16 atualiza a esperança de “ver o direito como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (5, 24) e aponta para a função social da fé cristã (que não pode ficar restrita a cultos e templos) conclamando a sociedade a se responsabilizar pela Casa Comum.
            Segundo o texto-base da Campanha, é necessário “instaurar processos de diálogo que contribuam para a reflexão crítica dos modelos de desenvolvimento que têm orientado a política e a economia” (8), isto é, o debate específico sobre o problema do saneamento básico busca enfrentar o paradigma desenvolvimentista que, para satisfação do consumo e do lucro, tem levado Nossa Casa à exaustão.
            Os enfrentamentos dos problemas mexem com as competências do Estado, da sociedade civil e dos indivíduos. Não há como buscarmos saídas razoáveis sem que todos assumam suas parcelas de responsabilidades.
            Ao Estado, compete promover programas de infra-estrutura (em sentido amplo) capazes de garantir qualidade de vida para as pessoas: água potável de qualidade, tratamento e destinação do esgoto, manejo adequado e sustentável dos resíduos sólidos, limpeza urbana eficiente, combate e controle dos meios transmissores de doenças, drenagem e utilização viável de águas pluviais... entendendo que “a implantação do saneamento básico torna-se essencial à vida humana e à proteção ambiental” (34).
            À sociedade civil, cabe tomar consciência dos temas que envolvem saneamento básico, conhecer as legislações pertinentes ao assunto, organizar-se para cobrar do Estado que cumpra seus deveres, promover debates que ajudem as pessoas à perceber a necessidade de refazer suas opiniões e ações, investir em estratégias de educação que despertem comportamentos baseados em um novo paradigma... termos “a responsabilidade, enquanto cidadãos e cidadãs, de cuidarmos do espaço onde moramos...” (54).
            Às pessoas, no plano individual e familiar, destinam-se as mais importantes ações, pois é na família, na escola, nas relações interpessoais mais próximas que se aprendem os valores que precisam nortear as novas ações; assim, é urgente praticar e ensinar que o lixo deve ser colocado na lixeira e jamais jogado no chão, os banhos devem ser rápidos e os dentes escovados com a torneira fechada, que o consumismo alimenta uma lógica que tortura o planeta em nome do lucro, os bens coletivos devem ser tratados com cuidado e respeito, que devemos participar das discussões de interesse coletivo, a corrupção é eticamente absurda... enfim, que “cada indivíduo deve fazer a sua parte” (25).
            Somos convidados a sair da comodidade e a permitir que esse tema nos sensibilize. Abrir nosso coração e nosso intelecto para sentir e perceber que somos co-responsáveis pelo cuidado com a Casa Comum. Não há lugares para fugas, as distâncias são aparentes; estamos todos no mesmo ambiente. É preciso mudar (converter, convergir!) o rumo; é necessário ser, aqui e agora, diferente do que fomos. Devemos cuidar já da “Casa Comum, nossa responsabilidade” para vermos “correr a justiça qual riacho que não seca”.




25 janeiro 2016

Liberdade: escolha escolher!

Debater sobre liberdade é experiência antiga na história da humanidade. De certo modo, direta ou indiretamente, o homem tem grande anseio pela sensação de liberdade. O homem, especialmente após as mudanças promovidas pela Modernidade, tem necessidade de sentir-se livre e de estabelecer sua vida a partir de suas escolhas.
                A liberdade, contudo, não pode ficar no plano da vida privada ou no mundo interno do indivíduo apenas, precisa alcançar o âmbito da esfera pública e se materializar em escolhas concretas dos indivíduos; é lá, nos assuntos de interesse público, que os indivíduos precisam de espaço para exercer suas convicções, opiniões, vontades e expectativas.
                Há duas forças que precisam dialogar com o intuito de se produzir indivíduos efetivamente livres: Condições externas (a economia, o estado, a sociedade, a educação, o direito etc.) e movimentos individuais em busca do exercício da liberdade. A existência de anseio dos indivíduos pela liberdade sem o reconhecimento estrutural por parte das instituições ou ainda o reconhecimento externo da liberdade sem que os indivíduos ajam como seres livres, geram esquizofrenias dramáticas.
                O sistema jurídico brasileiro consagra a liberdade como garantia (inviolabilidade à liberdade, art. 5º), mas é absolutamente indispensável que cada indivíduo tome posse dessa liberdade e sinta-se responsável pela condução de sua própria vida e, consequentemente, pela construção do modelo de sociedade que deseja par si e para os demais. Sem que os indivíduos assumam a própria liberdade nas mãos e arquem com as responsabilidades típicas de pessoas livres, a garantia jurídico-constitucional ou qualquer voz externa proclamando que os indivíduos são livres não passará de mera formalidade; não produzirá frutos; não transformará a vida e jamais gerará um modelo melhor de sociedade.
                Tomar posse da liberdade passa por ações concretas, por atitudes práticas vivenciadas no cotidiano. Cada pessoa é convidada a fazer escolhas a partir de sua própria interpretação da vida e não agir pela cabeça dos outros. Assim, no campo da política, do consumo, da religião; na escolha de quais programas serão reproduzidos pela televisão de casa; na seleção dos alimentos e da forma de se alimentar; na quantidade de tempo que será dedicado às redes sociais; na importância que terão as etiquetas e marcas; no conteúdo das mensagens que são reencaminhadas via whatsapp ou facebook; se serão tratadas com um sorriso ou com uma ‘cara feia’ as pessoas com as quais se encontrará ao longo do dia e em incontáveis outras situações, sempre existirá grande probabilidade de que o indivíduo possa estabelecer algum grau de escolha. Haverá liberdade!

                É desafiante assumir a responsabilidade pelo tipo de vida que se pretende viver, mas nisso consiste, ao mesmo tempo, o preço e a vantagem da liberdade. Essa deve ser nossa escolha: Escolher sempre!             

UM ESPAÇO A MAIS!!!

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QUE A PERSEVERANÇA SEJA NOSSA COMPANHEIRA DE ESTRADA;

QUE O AMOR SEJA NOSSO ALIMENTO COTIDIANO;

QUE O BOM HUMOR SEJA NOSSO PAR INSEPARÁVEL NO BAILE GOSTOSO DA VIDA;

QUE OS RECOMEÇOS SEJAM SINAIS DE NOSSAS TENTATIVAS.

ARQUIVO DE ARTIGOS / POSTAGENS ANTERIORES

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PENSE, AVALIE-SE, PLANEJE...

VAMOS CONSTRUIR UM ANO CHEIO DE CONQUISTAS:

"Quem não tem jardins por dentro não planta jardins por fora e não passeia por eles" (Rubem Alves).

Invista, antes de tudo, em seus jardins interiores, para ser capaz de ver a beleza dos jardins de fora.

ESCOLHA COMO VOCÊ QUER SER:

"Existem pessoas que choram porque as rosas têm espinhos...

existem outras que dão gargalhadas porque os espinhos têm rosas" (Confúcio).

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