Uma
das expressões mais concretas do amor é o cuidado: quem ama cuida com alegria e
prazer da pessoa amada; faz-se próximo e coloca-se, gratuitamente, a serviço de
quem ama. O amor, já diz o ditado popular, é lindo!
Não
deveria haver grandes problemas entre pessoas que declaram amor uma à outra;
não poderia existir tanta dificuldade de comunicação e entendimento entre
pessoas que têm claro um sentimento tão nobre uma pela outra. Mas porque tantas
vezes vemos “pessoas que se amam” reclamando umas das outras ou até mesmo
travando verdadeiras guerras em trincheiras opostas?
Muitas
respostas seriam legítimas para esta pergunta, entre elas, estão duas questões
que merecem atenção: a primeira é que há muitos equívocos com relação ao que
vem a ser amor; a segunda vincula-se a equívocos ligados à noção do que
significa cuidar. Em outras palavras: muitos conflitos e problemas entre
pessoas que declaram amor mútuo decorrem da falta de compreensão do significado
do amor e do cuidado que o verdadeiro amor inspira.
Quanto
aos erros com relação à ideia de amor, vale ressaltar que muitas pessoas adotam
um conceito de amor trabalhado romanticamente no cinema ou na televisão
(especialmente nas novelas!) e esperam que seus relacionamentos sigam aqueles
mesmos padrões: se esquecem que as tramas dos filmes e novelas mostram ao
expectador apenas uma pequenina parcela da vida e, de modo geral, realçando o
que é bonito e sem problemas.
Na vida real as pessoas e os
relacionamentos são bem diferentes. As pessoas não estão intermediadas pelas
lentes das câmeras e monitores, portanto, não estão vinte quatro horas por dia produzidas. No enfrentamento do
cotidiano os relacionamentos amorosos não são editados para que sobrem apenas
as pétalas perfumadas sem os espinhos; as palavras ditas ou ‘mal-ditas’ não voltam atrás, a
cara-feia, o mau-humor e os problemas não desaparecem com o final do
capítulo-dia para recomeçarem apenas no amanhã...
Há
pessoas que esperam amantes com as características das personagens ou, pior
ainda, dos atores ou atrizes que representam as personagens. Muitas vezes de
forma pouco consciente, ou até mesmo inconsciente, confrontam as pessoas que
dizem amar por não vê-las reproduzindo certo modelo de comportamento.
Não é possível colher bons
frutos do amor usando uma concepção errônea daquilo que é natural da
experiência de amar e, segundo nossa breve reflexão, amar requer a aceitação do
outro como um ser singular e único e, portanto, diferente de todas as demais
pessoas que existem. A pessoa amada precisa se sentir livre para ser quem é e
não constrangida, ainda que sutilmente, a ser outra pessoa ou a ter
comportamentos típicos de alguém que foi idealizado. É preciso saber que o amor
cria facilidades para aceitação e acolhimento da outra pessoa da forma como ela
é.
Este artigo
terá continuidade abordando o equívoco com relação à noção de cuidado se seu
título será: Amar é cuidar! (2).