No dia 15 de Maio de 1891 o Papa
Leão XIII publicou a encíclica ‘Rerum Novarum’ (Das coisas novas) para tratar da condição dos
operários da época. Este documento papal inaugurou uma nova fase nas reflexões
da Igreja acerca de Doutrina Social e potencializou a necessidade de refletir
sobre os reflexos da injustiça social impregnados nas diversas dimensões.
Nas palavras do Papa logo no segundo
parágrafo de sua encíclica é possível perceber, ainda que de modo introdutório,
a gravidade do momento que a encíclica irá interpretar:
Por toda a parte, os espíritos estão
apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta para mostrar
quantos e quão graves interesses estão em jogo. Esta situação preocupa e põe ao
mesmo tempo em exercício o gênio dos doutos, a prudência dos sábios, as
deliberações das reuniões populares, a perspicácia dos legisladores e os
conselhos dos governantes, e não há, presentemente, outra causa que impressione
com tanta veemência o espírito humano.
O
ponto de partida para a reflexão do Sumo Pontífice da época, sob a ótica
histórica, foi o conjunto de situações injustas que vitimavam pessoas do mundo
inteiro em decorrência de um modelo exploratório que sucumbia a dignidade
humana aos interesses econômicos. Tornara-se, ao que parece, insuportável
continuar em silêncio diante da exagerada intensidade dos desrespeitos, individuais
e coletivos, às pessoas.
As
flagrantes condições degradantes em que se encontravam sociedades inteiras, ao
alcançarem as pessoas, feriam todos os demais valores indispensáveis a uma vida
com dignidade, ou seja, ao chamar a atenção para o cerne do problema (a
pessoa!), o Papa provoca uma reflexão que perpassa os diversos setores da vida
social de sua época, pois faz uma crítica às estruturas que promovem e
sustentam a injustiça: a justiça ou injustiça não podem ser vistas como algo
que diga respeito exclusivamente ao indivíduo, mas devem ser percebidas e
refletidas como algo de interesse social/coletivo.
A
mudança de foco, de uma justiça que satisfaça apenas ao indivíduo para uma
justiça socialmente pensada, continua plenamente atual. Os cenários (históricos,
políticos, sociais, econômicos, culturais etc.) não são mais os mesmos, mas a
necessidade de criar condições de equidade e de respeito à dignidade continua
‘nova’ e urgente, afinal, por razões diferentes, com discursos mais
convincentes ou com tecnologias mais eficazes, nossos tempos parecem reinventar
estratégias de supervalorização do poder e do dinheiro em detrimento da
dignidade das pessoas.
É
tempo de termos, uma vez mais, doutos, sábios, assembléias, legisladores,
governantes (você e eu!) etc. que voltem a se impressionar com os graves
problemas que geram dor e morte.