O título
desse artigo parece um pouco estranho ou exagerado; talvez contraditório e
inconsistente... merece, portanto, uma boa reflexão para explicar o que
realmente pretende dizer.
Não podemos ser ingênuos ou
hipócritas afirmando que a felicidade é um estado de espírito que não depende
de quaisquer situações para existir. Uma felicidade experimentada na
indiferença das circunstâncias da vida beira à patologia.
Mas também não devemos ceder aos
imperativos de lógicas que nos induzem a pensar que a felicidade depende de
termos sempre mais ou de adquirimos as últimas novidades da tecnologia ou da
moda. Os extremos são bastante prejudiciais nessa questão, pois nos levam a
criar fantasias a respeito da vida e da felicidade.
Fugir dos extremos e não cair na
inércia do conformismo, eis um importante desafio a ser superado para
compreender a felicidade e para se sentir feliz.
A felicidade exige que saibamos nos
alegrar com o que temos e somos. É impossível ser feliz se não somos capazes de
continuar desejando e nos satisfazendo com as coisas que já conquistamos. Quem
projeta o momento ou a sensação de felicidade sempre naquilo que não tem jamais
se sente feliz ou entende algo sobre felicidade, pois a felicidade sempre será
adiada, já que sempre haverá algo que ainda não se tem.
A expectativa de que a felicidade
somente virá quando for possível comprar algo ou quando peso e medidas
corporais estiverem de acordo com certos padrões ou ainda quando as pessoas com
as quais convivo mudarem alguma coisa é contraditória, constitui investimento
contrário à identidade da felicidade.
Geralmente as pessoas que se
posicionam no presente como expectadoras de uma felicidade do futuro têm
dificuldade de perceberem que, no futuro, mesmo alcançando aqueles sonhos ou
realizando os desejos, estarão ainda vivendo de expectativas, pois isso gera um
ciclo vicioso: Não estou feliz agora
porque preciso de algo que só terei depois. Quando o depois chega, dependerei
de outra coisa que estará logo à frente...
Devemos ser capazes de nos realizar
com o que temos e somos! Para sermos felizes precisamos conseguir sentir uma
satisfação especial no contexto em que nos encontramos; precisamos ser capazes
de nos orgulhar da distância que já percorremos e de sentirmos prazer por
compartilhar um passado/presente/futuro harmonioso e estimulante.
É certo que devemos fugir do
conformismo. Não queremos defender que o desejo de superação e de crescimento
seja obstáculo para a felicidade, ao contrário, somos mais felizes quando temos
consciência dos avanços que precisamos implementar em nossa vida, mas não
podemos deixar de curtir as conquistas e de nos alegrar com o que temos e somos
em função daquilo que queremos ter ou ser. Quem consegue a paz de ser feliz com
o que tem alcança mais facilmente aquilo que ainda não tem e essa vitória
apenas aumenta uma felicidade que a pessoa já experimentava, por isso é mais
duradoura e significativa.