As campanhas da fraternidade promovidas
pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil convidam sempre a
reflexões e ações em prol de problemas histórico-culturais que clamam por
urgente conversão. Neste ano de 2018 o tema escolhido é a superação da
violência, sobretudo por meio da ampla difusão da cultura da paz, assim, a
cf-18 tem como objetivo geral “construir
a fraternidade, promovendo da cultura da paz, estimulando ações concretas que
expressem a conversão e a reconciliação no espírito quaresmal”.
A
violência se manifesta em três formas: direta, estrutural e cultural. A violência direta é aquela que pode ser
facilmente vista por ser dotada de um grande grau de objetividade (as agressões
físicas, os assassinatos, as ofensas raciais e sociais etc.); a violência estrutural ocorre com a
perpetuação de sistemas injustos e opressores (escola pública de má qualidade,
economia desordenada e desfavorável aos mais vulneráveis, a ineficiência do
aparato estatal etc.); a violência
cultural se dá com a aceitação passiva de atos violentos como naturais: uma
espécie de naturalização da violência e de perda da capacidade de espanto
associada a argumentos que “culpam” a vítima da violência pela ofensa sofrida
(é justo espancar o adolescente infrator, a vítima de estupro não deveria estar
com aquela roupa etc.).
Diferentemente da
violência direta que pode ser facilmente identificada e da violência estrutural
da qual se veem traços mais ou menos definidos, a violência cultural pode ser
mais esquiva. Esconde-se em meio a crenças legítimas, a formas de pensamento e
linguagem. Por exemplo, na forma como se constroem as relações sociais no
Brasil, entende-se comumente que a desigualdade é algo natural. Sob este ponto
de vista, tende-se a tratar, sob argumentos diversos, alguns sujeitos sociais
com se fossem inferiores: mulheres, jovens, idosos, trabalhadores, negros,
índios, pessoas com diferentes orientações sexuais, imigrantes, migrantes...
(n. 51).
O
aprofundamento do debate em torno da violência se materializa na análise da
violência racial, da violência contra os jovens e mulheres, da violência
doméstica, da exploração sexual e do tráfico humano, da violência contra os
trabalhadores rurais e contra os povos tradicionais, da violência provocada pelo
narcotráfico, da ineficiência do aparato judicial além de considerar as
delicadas relações entre polícia e violência, direito à informação e violência,
religião e violência e violência no trânsito.
Entre
as diversas críticas merece atenção o alerta com relação a discursos
(políticos, inclusive!) que se baseiam no estímulo ao uso de armas de fogo por
particulares; que confundem vingança com justiça; que colocam o dinheiro acima das pessoas; que transformam
interpretações unilaterais (telejornais!) em aparentes verdades... sobretudo
nestes casos os cristãos devem se sentir incomodados e desafiados a difundirem
a cultura de paz, a proporem a fraternidade como valor e a darem testemunho de
superação da violência.
A
fonte de inspiração para a superação da violência vem da Palavra de Deus, não
podemos, como Caim, romper a relação fraterna com nossos semelhantes vítimas da
violência, ao contrário, devemos ser promotores da paz e chamados filhos de
Deus. Não é possível confessar a fé num Deus que é Pai e se esquecer que esta
confissão gera uma inevitável irmandade universal: “A confissão de fé em um Pai comum é a semente dessa fraternidade”
(n. 175).
Por
fim, as palavras do Papa Francisco estimulam a promoção da paz por meio das
oportunidades que temos no cotidiano: “Todos
desejamos a paz; muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos
gestos...” (n. 204). O primeiro nível da promoção da paz e da superação da
violência é o pessoal – há sempre algo que cada pessoa pode fazer, ainda que
seja um pequeno gesto – depois do plano pessoal a promoção da paz deve ser
assumida pela família, pela comunidade e pela sociedade.
É
preciso lembrar que a sociedade será melhor para nós desde que sejamos melhores
para a sociedade. Um mundo melhor para nós, decorre da escolha de sermos
melhores para o mundo!