Em nosso artigo anterior levantou-se
uma polêmica acerca da existência de uma "crise de liderança" marcada
pela adoção de pessoas sem trajetória de vida que justifique reconhecimento às
mesmas: crianças e Jovens (artistas!) de comportamentos fúteis são eleitos como
ícones a serem seguidos e ouvidos.
Toda deficiência é percebida em
função de algum critério ou parâmetro, ou seja, para falarmos de crise de
liderança é necessário que tenhamos um conceito-referência a partir do qual a crítica
faz sentido.
O pressuposto aqui é: Os bons líderes
são pessoas cuja vida, pensamento, produção e propostas são capazes de instigar
as pessoas a serem melhores. Os líderes possuem capacidade para motivarem
indivíduos e grupos a perceberem a vida de um modo melhor; desempenham, por
aquilo que são e fazem, a função de despertarem a motivação que cada pessoa
precisa para prosseguir e evoluir.
É possível encontrarmos bons líderes
e é interessante pensarmos na hipótese de nós mesmos nos tornarmos bons
líderes. Alguns possuem uma aptidão quase natural para liderar, outros
desenvolvem e aprimoram essa habilidade. De todo modo, pessoas bem resolvidas e
determinadas podem fazer muito bem para si mesmas e para os outros, na medida
em que exercem liderança.
Muitas vezes os líderes são pessoas
de destaque, reconhecidas por muitos como "modelo"; por outro lado,
existem vários líderes mais discretos que estão próximos de nós e que contribuem
de modo muito positivo com a vida das pessoas.
O ideal é que cada indivíduo seja autônomo
na condução de sua história, mas essa autonomia não se opõe à possibilidade de
vermos em algumas pessoas exemplos inspiradores. A lógica é: quando me inspiro
em alguém que sabe o que quer e que tem uma vida compatível com aquilo que
fala, aumento minhas chances de me fortalecer na busca de meus ideais; quando
me espelho em frágeis figuras que ganham visibilidade sem justificativa
plausível, fico mais propenso a me nivelar por baixo.
De certo modo a escolha desse caminho
é pessoal, mas é importante sabermos que há escolha, isto é, podemos optar por
investir nossa admiração em pessoas com conteúdo; a nutrirmos respeito por
aqueles que têm algo para oferecer.
A história nos oferece bons nomes,
não há dúvida; porém, nosso desafio é encontrar entre nossos contemporâneos nomes
capazes de despertar em nós o desejo de admirá-las. É um exercício exigente,
pois de um modo geral a mídia não nos
ajuda muito, mas é importante que o façamos.
Há bons professores que merecem nossa
admiração; há excelentes líderes religiosos que pela coerência e consistência
podem despertar nosso respeito; há bons artistas (em todos os seguimentos) com
os quais podemos construir visões muito especiais da realidade que nos cerca;
há pais e mães (anônimos!) que labutam todos os dias e que são exemplos
incríveis de fidelidade e de doação; há voluntários construindo um mundo
alternativo e diferente em tantos lugares... definitivamente, se não quisermos,
não precisamos ficar submissos ao império da futilidade que emana de
"líderes" vazios.