12 dezembro 2013

A Felicidade não depende daquilo que nos falta, mas do bom uso daquilo que temos

            O título desse artigo parece um pouco estranho ou exagerado; talvez contraditório e inconsistente... merece, portanto, uma boa reflexão para explicar o que realmente pretende dizer.
Não podemos ser ingênuos ou hipócritas afirmando que a felicidade é um estado de espírito que não depende de quaisquer situações para existir. Uma felicidade experimentada na indiferença das circunstâncias da vida beira à patologia.
Mas também não devemos ceder aos imperativos de lógicas que nos induzem a pensar que a felicidade depende de termos sempre mais ou de adquirimos as últimas novidades da tecnologia ou da moda. Os extremos são bastante prejudiciais nessa questão, pois nos levam a criar fantasias a respeito da vida e da felicidade.
Fugir dos extremos e não cair na inércia do conformismo, eis um importante desafio a ser superado para compreender a felicidade e para se sentir feliz.
A felicidade exige que saibamos nos alegrar com o que temos e somos. É impossível ser feliz se não somos capazes de continuar desejando e nos satisfazendo com as coisas que já conquistamos. Quem projeta o momento ou a sensação de felicidade sempre naquilo que não tem jamais se sente feliz ou entende algo sobre felicidade, pois a felicidade sempre será adiada, já que sempre haverá algo que ainda não se tem.
A expectativa de que a felicidade somente virá quando for possível comprar algo ou quando peso e medidas corporais estiverem de acordo com certos padrões ou ainda quando as pessoas com as quais convivo mudarem alguma coisa é contraditória, constitui investimento contrário à identidade da felicidade.
Geralmente as pessoas que se posicionam no presente como expectadoras de uma felicidade do futuro têm dificuldade de perceberem que, no futuro, mesmo alcançando aqueles sonhos ou realizando os desejos, estarão ainda vivendo de expectativas, pois isso gera um ciclo vicioso: Não estou feliz agora porque preciso de algo que só terei depois. Quando o depois chega, dependerei de outra coisa que estará logo à frente...
Devemos ser capazes de nos realizar com o que temos e somos! Para sermos felizes precisamos conseguir sentir uma satisfação especial no contexto em que nos encontramos; precisamos ser capazes de nos orgulhar da distância que já percorremos e de sentirmos prazer por compartilhar um passado/presente/futuro harmonioso e estimulante.

É certo que devemos fugir do conformismo. Não queremos defender que o desejo de superação e de crescimento seja obstáculo para a felicidade, ao contrário, somos mais felizes quando temos consciência dos avanços que precisamos implementar em nossa vida, mas não podemos deixar de curtir as conquistas e de nos alegrar com o que temos e somos em função daquilo que queremos ter ou ser. Quem consegue a paz de ser feliz com o que tem alcança mais facilmente aquilo que ainda não tem e essa vitória apenas aumenta uma felicidade que a pessoa já experimentava, por isso é mais duradoura e significativa. 

27 novembro 2013

A sabedoria escondida na arte de ouvir

            É conhecido o ditado que diz que a razão de termos dois ouvidos e uma boca está na necessidade de ouvirmos mais e falarmos menos! Há muita sabedoria nesse ensinamento.
            Somos vítimas de um modelo de organização social que nos força a conversar pouco, por isso é comum encontrarmos pessoas que estão com grande necessidade de falar, mas que não tem quem as ouça com ternura e respeito.
            Ouvir é uma arte que precisamos praticar e desenvolver, pois numa audição atenta e respeitosa somos capazes de mergulhar no universo do outro e de compreender seus pontos-de-vista. Quando escutamos as pessoas, oportunizamos uma interação entre o mundo em que elas vivem e o nosso próprio mundo; possibilitamos ver a realidade com os olhos da outra pessoa.
            Mas ouvir é mais que escutar! Ouvir é mais que deixar o outro falar! Ouvir precisa ser mais que uma obrigação cansativa ou inevitável.
            Ouvir é interagir, muitas vezes através do silêncio, com o conteúdo falado e não falado trazido pelo interlocutor. Há uma mensagem que os ouvidos escutam e outra que é inaudível ao ouvido. Ouvir é estar aberto para captar esta mensagem que não passa pelos ouvidos.
            As palavras e gestos utilizados para a comunicação são apenas suportes que buscam revelar a mensagem que brota da vida e da intimidade do emissor. Quem escuta apenas aquilo que é falado corre muito risco de não conseguir ouvir o que efetivamente é dito.
            Seguindo essa linha de raciocínio, muitas pessoas se queixam de que não são ouvidas e tantas vezes têm razão, pois são apenas escutadas. A escuta é superficial, sem envolvimento, não compromete o receptor da mensagem e não satisfaz o emissor, cuja mensagem que saiu de si não foi realmente compartilhada. Ouvir implica em compartilhar da mensagem recebida, tomar parte daquele conteúdo.
            O ouvir atento precisa ser buscado e praticado. Podemos dizer que isso não é natural na maior parte das pessoas, mas pode ser construído com dedicação e esforço.
            A arte de ouvir está embasada em alguns valores e está a serviço da promoção da dignidade da pessoa humana. Podemos dizer que ouvir com atenção e envolvimento é sinal de que valorizamos e respeitamos as pessoas, de que as consideramos importantes para nós; ouvir é reflexo de nosso amor pela pessoa que nos fala.
            Algumas dicas podem nos ajudar a melhorar nossa capacidade de ouvir as pessoas que amamos: O ouvir atento implica em dedicar tempo ao outro. Não posso querer que a pessoa fale rápido demais, que seja objetiva, que vá direto ao ponto. A paciência é sinal de que aquela conversa é importante para mim também, por isso demonstro que sou capaz de compreender o tempo da outra pessoa!
Não é possível desenvolvermos nossa habilidade de ouvir se ficamos o tempo todo interrompendo quem está falando ou tentando adivinhar o que a pessoa está querendo dizer. Ouvir com atenção implica no exercício da humildade: não posso pensar que já sei o que a pessoa vai dizer; isso pode sinalizar arrogância e obstruir os canais da comunicação.
É importante também perceber que há situações em que nossa fala não é, nem de longe, o mais importante, pois a pessoa precisa apenas que alguém a ouça de verdade. Não tenho obrigação alguma de ter as palavras certas para dizer depois que ouço alguém!

            Saber ouvir é uma virtude que todos podemos praticar e essa arte torna a vida mais suave e harmoniosa. Você já ouviu alguém hoje?    

24 outubro 2013

Modernidade e moralidade: caráter é essencial

            Os Tempos Modernos trouxeram consigo a certeza de que os antigos costumes e valores seriam descartados. O homem moderno e, em certa medida o homem atual, nutriu a convicção de que a saída para todos os problemas existenciais e sociais seria a inovação e o abandono de todos os sinais que estiveram presentes nas tradicionais formas de viver.
            Muita coisa boa ocorreu com essa ousadia; muitas barreiras foram superadas; inúmeros avanços em diversos campos da experiência humana e a sensação de que a vida torna-se melhor, mais suave e mais amparada.
            Por outro lado, e sem muito receio, podemos constatar vários prejuízos, como o individualismo, a falta de sentido para a vida, a sobreposição do ter em relação ao ser e, como objeto dessa reflexão, a perda da noção de caráter.
Nenhuma sociedade pode ser duradoura e consistente sem desenvolver em seus membros a capacidade de agir com caráter. O caráter é o conjunto de elementos que transpassam a personalidade e fazem do respeito um valor inegociável.
            O caráter não é algo simples ou que se forma com facilidade. Ele depende da conjugação de dois fatores especiais e interdependentes: a teoria e a prática, ou seja, o caráter emerge na personalidade do indivíduo quando os adultos discursam sobre a forma correta de se comportar, mas também praticam comportamentos adequados.
            A construção do caráter, portanto, depende de um árduo trabalho de educação e convivência que leve o indivíduo em formação a perceber a supremacia de alguns valores, e mais: a compreender que tais valores devem ser observados e vivenciados independentemente de quaisquer ganhos ou negociações, pois são valores em si mesmos, ou seja, uma pessoa de caráter age corretamente pelo simples fato de ter percebido que essa é a forma de agir e não porque vai obter algum retorno ou “pagamento” pela ação correta.
            O caráter se forma quando pais, educadores e líderes religiosos vão ensinando às crianças, por meio de palavras e exemplos, a importância da honestidade; a grandeza da solidariedade; a necessidade da tolerância/respeito a todo tipo de diferença; a capacidade de não julgar e de não falar mal dos outros; a beleza escondida na diversidade humana... o caráter brota na personalidade quando ensinamos às crianças que a dor que dói no outro doeria em mim também! Que o respeito pelo outro reflete o respeito por mim mesmo, não sendo possível haver respeito em relação a mim se deliberadamente falto com o respeito em ralação ao outro.
            A formação do caráter não está fora de moda e não pode ser encarada como algo superado pelas inovações modernas. Precisamos de homens e mulheres de caráter. Continuamos tendo muita necessidade de pessoas que não sintam vergonha de se posicionarem diante de injustiças e desonestidades. Faz-nos falta pessoas que tenham coragem de escolher um comportamento reto, que fujam do relativismo, o qual, ironicamente, absolutiza a ausência de caráter como regra de convivência.
            A responsabilidade pela formação de uma geração que tenha caráter é dos adultos e deve ser exercida de modo compartilhado pela família, pela escola, pela religião e por todas as instituições e pessoas que estão comprometidas com uma sociedade melhor.
            Viver em uma sociedade em que as pessoas têm caráter é mais vantajoso. O mau-caratismo gera insegurança ou cria uma falsa sensação de bem-estar, mas nenhuma sociedade vive bem quando se institucionaliza a falta de caráter, pois o ganho que se tem com a ação sem caráter é momentâneo e mascará uma dura realidade: os sujeitos ativos e passivos dessas ações mudam de lugar com muita facilidade e, geralmente, não gostamos quando somos a vítima.

            Caráter não é uma questão de moda ou de gosto. Caráter é essencial. 

17 setembro 2013

Voluntariado: sinal de coerência e coragem a serviço da vida!

            Por que uma pessoa se dispõe a ser voluntária em alguma situação? Que motivos levam alguém a deixar momentaneamente seus afazeres pessoais para colocar-se a serviço de alguma causa? A presença dos voluntários é crescente em nossa sociedade. Cada vez mais encontramos pessoas dispostas a dedicarem um pouco de si mesmas para a promoção ou o bem estar de outros.
            O voluntariado é um gesto de liberdade. Como a própria palavra indica, o voluntário é alguém que se oferece para contribuir com algo ou para participar de alguma proposta por sentimento de gratuidade.
            No trabalho do voluntário é possível percebermos valores humanos que precisamos realçar nos dias atuais; é possível identificarmos grandes sinais da esperança e do otimismo que garantem a validade de continuar acreditando no ser humano e alimentando a certeza de sua evolução, apesar de muitas notícias insistirem no contrário.
            Os voluntários resgatam a beleza e o significado do serviço ao outro como modo de construção de uma vida melhor. Colocar-se à disposição de alguém é dizer com gestos, mais do que com palavras, que o outro é importante e merece ser cuidado; é traduzir, de modo prático, que a humanidade presente no outro é digna de reverência e suficiente para nos fazer mover respeitosamente em sua direção para servir.
            A ação dos voluntários indica também a existência de uma lógica diferente da predominante na linguagem mercadológica de nossos dias. O voluntário quebra a convicção individualista e egocêntrica que sustenta a busca da maioria das pessoas de nossa sociedade, pois é capaz, muitas vezes, de experimentar um paradoxo: servir a quem não pode pagar e receber um “pagamento” completamente diferente do dinheiro. Para o voluntário, a certeza de que colaborou com alguém é suficientemente satisfatória e, talvez mais cara, do que qualquer valor pecuniário.
            Por fim o voluntário ensina ainda duas coisas: a gestão do tempo e a coragem de fazer o que precisa ser feito.
Quanto ao tempo, a maioria dos voluntários não são pessoas desocupadas, ao contrário, são homens, mulheres e jovens que têm uma vida corrida e cheia de compromissos, mas são capazes de gerenciar de tal modo seu tempo que lhes é possível dedicarem-se à promoção e ao cuidado de outros sem deixarem de cuidar de si mesmos e de suas famílias. Isso é uma grande lição, afinal, há pessoas que reclamam insistentemente que não têm tempo para nada e muitas vezes essas pessoas mal cuidam de si mesmas!
            Em relação a terem coragem de fazer o que precisa ser feito, os voluntários merecem destaque. O voluntário percebe a situação de fragilidade próxima de si – identifica certo problema que demanda ajuda – descobre com o quê e como pode ajudar, oferece-se para servir e, o mais importante: vai lá e faz o que está ao seu alcance. Sai da teoria para a prática; busca vivenciar a coerência entre as boas ideias e as boas práticas que concretizam essas ideias. Às vezes vemos a necessidade, sabemos o que fazer, sabemos que podemos fazer, mas na hora de colocar em prática... falta-nos a coragem para sairmos de nós mesmos e irmos ao encontro do outro.
            Existem várias modalidades de voluntariado: desde as mais institucionais e explícitas até as mais informais e discretas. A vida de alguém sempre fica melhor quando nos dispomos a, livremente, fazer algo para ajudar. Podemos e devemos resgatar a beleza do serviço desinteressado ao outro como modo de contribuir com nossa parcela para a construção de uma sociedade melhor.
            Não há ninguém que seja tão ocupado que não possa colocar-se a serviço. Trata-se de aprender com os voluntários que uma simples ação gratifica tanto quem é beneficiado por ela quanto quem a realiza.
            Sem ingenuidades ou falsos otimismos, os voluntários nos ensinam que um pouco de doação e cuidado uns com os outros torna nossa existência mais significativa e feliz.

Descubra com quais gestos você pode praticar, voluntariamente, algum tipo de serviço ao próximo e experimente a sensação de ajuntar tesouros diferenciados, tesouros que não enferrujam!  

05 agosto 2013

Qual é o limite para nos ocuparmos dos problemas ou sofrimentos das outras pessoas?

            Qual é o limite para nos ocuparmos dos problemas ou sofrimentos das outras pessoas? Esta é uma pergunta muito complexa, pois cada caso pode inspirar uma reflexão e uma resposta própria.
            De um modo geral, podemos dizer que há situações de sofrimento que decorrem de nossas próprias escolhas, mas há outras que emanam dos comportamentos de pessoas ligadas a nós, como familiares ou amigos próximos.
Podemos dizer que o ideal é que cada pessoa resolva seus próprios problemas; que cada um se acerte com as consequências das próprias ações; que todo sujeito seja autônomo na condução da própria vida.
Na prática, as coisas não acontecem bem assim. Primeiro, porque muitos problemas são, no momento em que estão ocorrendo, maiores que nossa capacidade de resolvê-los, ou seja, é razoável que no decorrer da vida enfrentemos situações que demandem apoio e ajuda de pessoas mais experientes e maduras; segundo, porque vivemos em coletividade e as circunstâncias da vida não nos afetam de modo isolado.
Podemos partir deste ponto: é legítimo que os problemas de uns afetem os outros e que haja uma corresponsabilidade para a busca de soluções para tais situações. Até certo ponto isso é aceitável e necessário para que construamos uma cultura de solidariedade.
O desconforto advém das situações que extrapolam o limite da razoabilidade estando marcadas por sinais de patologia ou da fala de real interesse pelo outro, ou seja, há pessoas que buscam as outras para resolverem problemas que dariam conta de resolver e que constituem sua exclusiva parcela de responsabilidade pela própria vida.
Ninguém pode ou deve se sentir responsável, além do limite, pelos problemas do outros. Cada pessoa é responsável por sua vida, mesmo quando se esconde por trás da fragilidade emocional ou de eventuais situações de um passado traumático. Em outras palavras, cada pessoa é autora da própria vida e da própria história, mesmo quando faz delas algo sem brilho. Justificar ou transferir para outros as razões de ser da própria vida não faz de ninguém menos responsável por tudo o que lhe acontece.
Por outro lado, há pessoas que aceitam o papel de carregarem fardos que não são delas. Às vezes por culpa; às vezes por uma falsa compreensão do lugar que ocupam na vida do outro; às vezes por acharem que desse modo estão ajudando... de qualquer modo, carregar para o outro o fardo que ele dá conta ou que é de sua exclusiva responsabilidade não  contribui com o amadurecimento, ao contrário, alimenta a imaturidade e, por vezes, conduz a níveis mais profundos de problemas e até de doenças.
Na condição de familiares (especialmente mães e pais) ou de amigos próximos, é preciso estabelecer, com clareza, o que constitui a vida e os problemas do outro e não entrar no jogo desrespeitoso ou doentio que nos envolve e seduz para carregar fardos que não são nossos. É necessário ter coragem para “forçar” o outro a crescer; é preciso ser saudável emocionalmente para dizer um basta e deixar o outro se construir autonomamente.
Quem carrega aquilo que pertence ao outro faz muito mal para si e para o outro e, por uma questão de coerência com o que dissemos acima, não pode se esquivar de assumir que é responsável por isso.

Se alguém não nos respeita impondo suas responsabilidades sobre nós; se alguém está emocionalmente frágil ou doente, não é alimentando isso que iremos ajudar, ao contrário, devemos superar a vulnerabilidade e deixar claro que cada um deve carregar aquilo que compete a si, afinal, cada um tem uma vida. Então, que cada um assuma-a.

22 julho 2013

A busca equilibrada do Poder Judiciário como exercício de cidadania

Depois da promulgação da Constituição de 1988, é crescente no Brasil a consciência de que existe um Poder autônomo, forte, isento e capaz de oferecer aos indivíduos solução para os eventuais “conflitos” que não puderam ser resolvidos de modo pacífico ou administrativo. A crença de que se deve buscar pelos Direitos faz com que milhares de novas ações sejam iniciadas a cada dia. O brasileiro confia e recorre ao Poder Judiciário.
Essa confiança no Poder Judiciário é um dos sinais concretos da democracia e do republicanismo presentes em nosso meio. Quanto mais as pessoas confiam que têm a quem recorrer, mais se implementa um Estado Democrático de Direito.
Todas as pessoas têm direito de procurar o Judiciário a fim de terem sua pretensão processada e julgada. Esse é um sagrado direito garantido pela Constituição. Mas é importante salientar que tal direito não é apenas teórico, mas prático. Um exemplo dessa concretude é a obrigatoriedade de o Estado oferecer advogados gratuitos para aqueles que não podem contratá-los – Defensorias públicas, advogados dativos, de modo que a ninguém será negado acesso ao Estado-Juiz.
Além da disponibilização de defensores públicos e de advogados dativos, há algumas simplificações que facilitam o acesso das pessoas ao Poder Judiciário. Duas situações servem de referência: A primeira é a Justiça do Trabalho e a segunda são os juizados especiais.
Na Justiça do Trabalho qualquer pessoa pode pleitear direitos trabalhistas sem necessitar de advogado; nos juizados especiais (instituído para causas simples e de baixo valor pecuniário), qualquer pessoa pode demandar contra outra sem estar representado por advogado.
Mas é preciso tomar muito cuidado com essas facilidades apresentadas pela lei. Muitas vezes o que parece um direito, uma liberdade ou até uma facilitação pode esconder armadilhas perigosas que levam ao perecimento de vários direitos. Para causas muito simples, especialmente cujo valor seja inferior ao pagamento de honorários advocatícios, talvez seja interessante buscar, por conta própria, o Judiciário, mas para causas que demandam um mínimo de técnica e de conhecimento jurídico é recomendável consultar e contratar ajuda profissional.
Tendo em vista, ainda, o aumento de causas nos tribunais de todo o país, é legítimo importante fazermos outra análise: é recomendável nos perguntarmos, antes de propormos uma ação judicial, se já esgotamos os recursos disponíveis para solucionar o conflito. É mesmo necessário e indispensável que entremos com uma ação judicial?
Muitas vezes vemos situações que seriam legitimamente solucionadas a partir de um diálogo, de uma composição amigável se transformarem em longas ações judiciais. Há inúmeras situações que o bom senso e o espírito de civilidade dariam perfeita conta de resolverem. É preciso fugir do modismo da judicialização de todos os conflitos que temos.
O Poder Judiciário não é lugar de vingar ou de descontar a raiva que alguém tenha sofrido; não é caminho para enriquecimento sem causa através da busca de indenizações fantasiosas. Há pessoas que dizem que entrarão na justiça para fazer raiva na outra parte...
Por vivermos em uma sociedade tão complexa como a nossa é preciso saber dosar o que é relevante, sempre tendo em mente que fazemos parte de uma coletividade. O Poder Judiciário custa caro aos cofres públicos e deve ser buscado de modo equilibrado.

Vale como referência nessa avaliação o famoso ditado popular: “o pior acordo é melhor que a melhor demanda”. Todas as pessoas envolvidas nos conflitos - as partes, os advogados, os serventuários da justiça, o juiz - devem sempre buscar a conciliação.  

10 junho 2013

Tem propaganda aí querendo nos enganar!



Um otimismo ingênuo pode ser muito prejudicial. A melhor receita para vivermos de modo equilibrado é desenvolvendo uma visão realista do mundo à nossa volta. A pessoa realista é capaz de pensar positivo ao mesmo tempo em que contempla a realidade como ela é.
Algumas propagandas institucionais, aquelas que falam bem de certos estados do Brasil ou que falam muito bem de alguns eventos que a sociedade brasileira (ou o Brasil!) está prestes a vivenciar, ou ainda que comemoram resultados mirabolantes, podem nos enganar!
É lindo e faz bem acreditar no país. É sinal de patriotismo e de colaboração com o desenvolvimento humano ter uma fé operante no sucesso de nossas instituições políticas e sociais, mas é muito importante que não percamos nosso senso crítico. Há incompatibilidades que precisamos ser capazes de detectar.
Por que as escolas públicas mostradas nas propagandas são tão mais perfeitas que aquelas onde estudam nossas crianças? Por que nessas escolas das propagandas os professores e alunos estão tão mais felizes que os professores e alunos que conhecemos em nossa dura realidade?
Por que os programas sociais sempre funcionam bem nas propagandas e, no fundo, mesmo que as propagandas tentem nos convencer do contrário, perto de nós temos tanta dificuldade de vê-los funcionando de modo eficaz?
Por que os policiais dos comerciais sentem-se tão felizes e são tão sorridentes, se ao nos deparamos com pessoas que lidam na área da Segurança Pública, falta-lhes até papel para imprimirem os relatórios de seus trabalhos? Faltam-lhes condições básicas de dignidade humana para prestarem os serviços que são de sua competência?
Por que vemos tantos profissionais da educação, da saúde, da segurança pública, entre outros, adoecendo e vivendo sob o poder de fortes medicamentos para dormir, para combater a ansiedade ou a depressão?
Que resultados são esses alcançados pela Educação pública que não refletem a forma como nossas crianças se comportam ou como conseguem acesso a níveis efetivamente melhores de qualidade de vida?
Que benefícios os grandes eventos mundiais – Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas – trazem para as pessoas simples da sociedade, além da momentânea sensação de bem estar por sermos o foco das atenções?
De modo concreto, em que a vida das pessoas se tornará melhor a partir da construção e ampliação de grandes estádios e outras obras caríssimas para receber eventos no Brasil? É justo investir tanto dinheiro público em um evento particular como uma Copa? Quem paga essa conta?
São confiáveis os discursos que sustentam que tudo isso é bom para a economia do Brasil e bom para a sociedade? Para quem é realmente boa a imagem de perfeição que se cria das instituições e desses eventos? Alguém tem interesse na criação dessa imagem de Estado/País perfeito?
É preciso abrir os olhos. Tem gente usando os meios de comunicação para nos enganar, usando imagens bonitas e falando o que gostaríamos de ouvir.
Há muitas mentiras travestidas de verdades. Há muitos lobos em peles de cordeiros. É preciso nos alegrarmos com os bons resultados e curtirmos os bons momentos da vida, mas jamais podemos perder a capacidade de criticar a realidade que está à nossa volta. Nisso nos tornamos melhores, mais realistas e mais felizes.

27 maio 2013

Celebrando a festa de Corpus Christi no conjunto das manifestações do Senhor em nossas vidas.



          A Festa do Corpo e Sangue de Jesus Cristo é celebrada na Igreja Católica com a finalidade de realçar a beleza, a profundidade e a força de todo o Mistério Eucarístico. É uma festa que exalta a presença de Jesus Cristo, na simplicidade do Pão e do Vinho consagrados e transformados no Corpo e Sangue do Senhor.
          Do ponto de vista litúrgico e celebrativo é uma Festa muito bonita e envolvente. Muitas das nossas comunidades desenvolveram a tradição de enfeitar as ruas com lindos tapetes – verdadeiras obras de arte – e o Santíssimo Sacramento, em meio a cantos, homenagens e adorações, passa solenemente abençoando as ruas, o comércio, as famílias! É uma experiência pública de adoração e de reconhecimento da Presença Real de Jesus Cristo no meio dos homens.
          Quando nos colocamos diante da celebração do Corpo e Sangue de Cristo é importante que façamos o exercício de aprofundar, a partir de toda essa experiência, algo acerca de nossa experiência de fé. Precisamos aceitar o convite para irmos além do cansaço pelos trabalhos realizados e da lembrança de que tudo foi lindo.
          A presença de Jesus na Hóstia é uma das tantas formas que Ele encontrou de estar perto de nós, mas não é a única forma. Podemos até admitir que a presença de Jesus na Eucaristia – e na Hóstia – seja um modo muito especial de encontro com Jesus, mas, por uma questão de coerência, devemos estar atentos para a presença de Jesus Vivo em outras maneiras de manifestação.
          O mesmo Jesus que “anda” pelas procissões da Festa de Corpus Christi está presente na Palavra – Bíblia – que também nos alimenta e nos desafia a sermos seguidores e cumpridores do Mandamento do Amor.
          Tanto quanto “caminha” pelos tapetes artisticamente bem feitos, Jesus caminha pelas ruas sujas, sem emprego e sem teto, na carne sofrida de pessoas que ainda não encontraram um rumo para suas vidas: estão perambulando econômica, social, religiosa e existencialmente nas ruas enfeitadas pelo vazio e pelo anonimato.
          Assim como nos aguarda silenciosamente no Sacrário ou no Ostensório, “ansioso” por um pouco de nosso tempo e de nossa dedicação, Jesus encontra-se em tantos semelhantes nossos esperando atenção, compreensão, tolerância e serviço: Somos desafiados a “ajoelharmos” diante do Jesus presente em nossos semelhantes para servi-los com nosso silêncio, com nosso ouvido ou com nossa capacidade de compadecer.
          Não é que nossa adoração ao Jesus presente na Hóstia não seja legítima. É correta e, com toda certeza, está de acordo com a vontade de Deus. Adorar Jesus Cristo na Hóstia Consagrada é sinal de fé e alimenta nossa espiritualidade. Mas precisamos expandir essa crença e experiência para as outras formas onde encontramos o mesmo Jesus presente.
          Nossa fé se fortalece quando nossa adoração e serviço ao Senhor se amplia: ouvir, ler e buscar praticar a Palavra de modo intenso, cotidianamente, e não somente em dias de certa festividade religiosa; ver que Jesus está presente nas pessoas que sofrem com a pobreza, com a doença, com a exclusão; compreender que devemos ser pessoas do Amor e, consequentemente, do perdão. Tudo isso são modos de tornar mais coerente nossa fé em Jesus Cristo e em seu Corpo e Sangue, aliás, quando comungamos o Corpo e o Sangue, estamos compactuando com a proposta do Reino de Deus que Jesus veio estabelecer.
          Aproveitemos essa oportunidade para fazermos da Celebração de Corpus Christi uma experiência que nos amadureça na fé. Deus abençoe ricamente a todos e conceda, pela presença do Espírito Santo, entendimento e força às nossas comunidades.

16 maio 2013

O que você precisa mudar em sua vida?



            Estamos sempre desejando que alguma mudança importante aconteça em nossa sociedade. Todos somos capazes de sugerir que alguma coisa mude em nossa família, em nossas instituições ou na política. Mas é necessário que nos perguntemos: Onde começam as mudanças? As mudanças precisam ocorrer fora de nós ou as mudanças precisam se materializar a partir de nosso interior? É necessário que a realidade mude ou que mude apenas meu modo de ver a realidade?
            A princípio podemos achar fácil responder a estas perguntas, mas é interessante fazermos  uma análise mais geral e profunda. É bom nos darmos a oportunidade refletir um pouco sobre o tema das mudanças.
            É mais fácil trabalharmos com a ideia de que a mudança não deva ser nossa; muitas vezes a vida se torna aparentemente menos pesada quando afastamos para longe de nós a responsabilidade de efetuar mudanças em nossa forma de ver a vida ou até mesmo em nossa forma de viver. Muitas vezes projetamos a necessidade de mudança nos outros e ficamos apenas aguardando...
            A vida vai melhorar quando os políticos deixarem de ser corruptos; a Igreja será melhor quando o líder for mais amável e dinâmico; a felicidade chegará quando a esposa (ou o marido!) mudar o jeito de ser... enfim, tudo depende de uma transformação externa ao indivíduo, em nenhum momento a autocrítica o aponta como sujeito que deve protagonizar a mudança.
            Esta prática nos impede de agir no melhor momento e cria uma falsa sensação de que as coisas não estão melhores porque alguém está deixando de fazer sua parte e, é claro, esse “alguém” nunca somos nós!
            Precisamos ter coragem de encarar de modo maduro as circunstâncias da vida. Precisamos ter ousadia para assumir as “rédeas” de nossa história e de definir de modo autônomo e decidido as consequências das escolhas que fazemos. Não é compatível com um comportamento maduro e adulto acalentar a convicção de que as mudanças devam ser sempre dos outros.
            Outro ponto relevante é discernir acerca daquilo que precisa ser mudado: a realidade ou nosso olhar sobre ela?
            Muitas vezes precisamos ter habilidade para mudar nossa forma de ver as cosias e não esperar que elas mudem. Nossa visão de mundo usa “lentes” que nos possibilitam ver a realidade em certa tonalidade. Há situações que exigem de nós substituir as “lentes” por outras e ver as coisas com cor diferente, ou seja, mudar nosso ponto de vista. Ter consciência de que a realidade à nossa volta muda quando mudamos a forma de vê-la é indispensável, pois há situações que não precisam mudar, senão nosso modo de percebê-las.
            De qualquer modo precisamos nos ver como responsáveis ou corresponsáveis pelas mudanças importantes, sejam aquelas muito próximas de nós ou as mais distantes. Jamais podemos viver como se a responsabilidade pelo nosso presente e nosso futuro dependesse somente do que acontece a nossa volta e não de nós mesmos.
            Por fim, a prece da serenidade é uma indicação muito sábia quando o assunto é mudança: “Senhor dá-me coragem para mudar as coisas que podem ser mudadas; serenidade para aceitar as coisas que não podem ser mudadas e sabedoria para distinguir umas das outras”.
            Querer mudar o que não muda ou o que não precisa ser mudado é tão grave quanto pensar que a mudança depende somente dos outros.
            Que mudanças dependem de você? O que em seu modo de ver pode ou precisa ser mudado?

UM ESPAÇO A MAIS!!!

Blog dedicado à partilha de informações e materiais de apoio das disciplinas que leciono e à publicação dos artigos que escrevo. Espaço virtual de democratização da busca pelo saber. "Espaço" reservado à problematização e à provocação! Um potencializador das indagações nossas de cada dia. Um Serviço!

SEJA BEM VINDA (O)!
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CAROS AMIGAS E AMIGOS!

ESPERO E DESEJO:

QUE A ESPERANÇA SEJA NOSSA GUIA;

QUE A PERSEVERANÇA SEJA NOSSA COMPANHEIRA DE ESTRADA;

QUE O AMOR SEJA NOSSO ALIMENTO COTIDIANO;

QUE O BOM HUMOR SEJA NOSSO PAR INSEPARÁVEL NO BAILE GOSTOSO DA VIDA;

QUE OS RECOMEÇOS SEJAM SINAIS DE NOSSAS TENTATIVAS.

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PENSE, AVALIE-SE, PLANEJE...

VAMOS CONSTRUIR UM ANO CHEIO DE CONQUISTAS:

"Quem não tem jardins por dentro não planta jardins por fora e não passeia por eles" (Rubem Alves).

Invista, antes de tudo, em seus jardins interiores, para ser capaz de ver a beleza dos jardins de fora.

ESCOLHA COMO VOCÊ QUER SER:

"Existem pessoas que choram porque as rosas têm espinhos...

existem outras que dão gargalhadas porque os espinhos têm rosas" (Confúcio).

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