Oi! Tudo bem com você?
Vivemos tempos difíceis! Tempos sombrios! Os discursos de
ódio crescem e o estímulo à violência ganha força e adeptos explícitos. A ideia
de que a força deve se sobrepor ao diálogo tenta se naturalizar e a empatia
denota fraqueza. Sacar primeiro a arma que agride e derruba o outro é sinal de
orgulho e heroísmo, ainda que esta arma seja uma fala mentirosa e não uma pistola,
fuzil ou uma granada.
A história registra outros momentos semelhantes a este.
Momentos nos quais a barbárie subiu no podium para ser ovacionada, aplaudida e
premiada com o troféu da irracionalidade. Não é a primeira vez que a arrogância
tomou o lugar da sensibilidade e que a obscuridade, gerada pelo culto à
ignorância, usurpou o lugar da civilidade e do bom senso. Como um pêndulo, a
história volta a territórios já conhecidos e colhe os péssimos frutos da
aflição.
Na base destes momentos trágicos há, entre outras, duas
coisas que merecem atenção: a convicção, cultivada por alguns, de serem
melhores que as outras pessoas; a confiança cega em um “líder” que cultiva e
cultua ideais paranoicos.
O primeiro sintoma de tragédia aparece com a certeza de que
uma parcela da humanidade é melhor que a humanidade inteira; que uma elite é
dotada de superioridade cognitiva ou genética; que um grupo possui
conhecimentos privilegiados, enquanto a população em geral é desprovida destes
conhecimentos. É trágico: um pequeno grupo acredita que tem o direito de
massacrar, com armas inclusive, quem pensa, crê, sente e vive de forma
diferente de seu padrão, mesmo que seja o padrão tradicional. Esta convicção
fere um princípio elementar, porém estrutural: na essência todas as pessoas são
iguais, portanto, tudo o que nega esta igualdade precisa gerar desconfiança.
O segundo problema é a cegueira que surge quando as
pessoas passam a confiar irracionalmente em um líder, principalmente quando
este líder é adepto e propagandista de teses conspiracionistas e negacionistas.
A lâmpada da cautela precisa acender em nossa mente quando nos dizem que tem
alguém querendo destruir a sociedade e que o líder é o salvador da pátria. É
preciso nos vacinarmos contra a manipulação de narrativas religiosas, morais e
patrióticas a serviço da divisão da sociedade; é preciso fugir da mentira que
cria inimigos imaginários, causando medo e ódio.
As duas tragédias – considerar-se melhor que os outros e
confiar cegamente em um líder-mito – se escondem por trás de discursos
aparentemente bons e saudáveis, embora revelem o pior lado humano. São
propostas que parecem a coisa certa, por virem revestidas de religiosidade,
moralidade e aparência de bem, mas semeiam o ódio, o medo e a aflição,
portanto, jamais produzem os frutos da paz.
Por fim, é preciso lembrar que cada um de nós tem
livre-arbítrio para escolher se apegar aos sintomas de tragédia indicados acima
ou se vacinar contra eles. Será que aquelas formas de pensar nos representam de
verdade ou estamos sendo vítimas de algum tipo de manipulação? É importante fazermos
uma autocrítica séria e honesta para não sermos sementes de aflição, enquanto
esperamos a colheita da paz.
O que você pode fazer hoje para lançar, no solo da história,
sementes de paz e não de aflição?