Por que ainda
ocorrem tragédias tão dramáticas e devastadoras como a que surpreendeu os
brasileiros com a ruptura da barragem da mineradora Samarco?
O
processo de construção da cultura humana se dá na transformação dos meios
naturais; o homem se humaniza a partir da capacidade criativa que altera o
habitat natural e inventa mundos novos e capazes de gerar sentidos para sua
existência e melhores condições de vida. Não seria possível pensar a humanidade
do ser humano fora desse contexto.
Essa
capacidade ou necessidade humana de transformar a natureza pode ser
compreendida e aplicada a partir de diversos referenciais: alguns mais
predadores e egoísticos outros mais conscientes e sistêmicos.
Os
modelos de utilização do meio ambiente que estão focados exclusivamente no
lucro e na exploração exaustiva dos recursos naturais provocam,
inevitavelmente, desastres irreparáveis, pois partem do pressuposto de que a
natureza é uma escrava inerte e incapaz de cobrar os custos de ações
irracionais e inconsequentes. Enganam-se: a natureza, direta ou indiretamente,
faz o acerto de contas e exige que justos e injustos, culpados e inocentes
paguem a conta da ganância.
O
Rio Doce não está sujo porque a lama
tomou conta dele... não está feio porque ficou com cor de barro... não está
gerando lutos por ter morrido! O Rio
Doce está sujo, feio e morto porque foi vítima de uma mentalidade egoística de
pessoas e grupos que colocam seus interesses acima de qualquer limite e, por
consequência disso, se vêem no direito de passarem por cima toda forma de vida
e de valores.
A “lama” é apenas
um sinal visível de uma concepção que ignora o valor das diversas formas de
vida. A “lama” é o resultado de um longo processo, perverso e irracional, que
tem início no coração e na mente de pessoas que manipulam todas as coisas para
satisfazerem seus interesses ególatras.
Livrar-se
da “lama” amarga requer que comecemos a mudar a forma de pensar e sentir com
relação a todas as formas de vida, não só à vida humana. Recuperar a doçura
exige mudar as escolhas e os rumos.