O conceito de humanidade é um dos mais importantes produtos que a racionalidade já construiu, pois, por intermédio deste conceito se criou a compreensão de que a pessoa humana tem um valor inerente, intrínseco, logo, o exercício de direitos e deveres próprios do ser humano não precisa buscar fundamentos fora da natureza, devendo ser, pelo menos do ponto de vista lógico, de reconhecimento imediato.
Considerar a humanidade como valor,
entre outras coisas, cria compromisso com duas atitudes: 1) agir considerando
que nenhuma pessoa pode ser instrumentalizada para alcance de quaisquer
finalidades; 2) considerar que cada pessoa é única, portanto, deve ser
respeitada e tratada a partir de sua singularidade.
Cada pessoa carrega dentro de si a
essência da humanidade. As contingências da vida sociocultural (condição
econômica, grau de escolaridade, crença religiosa, orientação sexual etc.) ou
as marcas biotípicas (altura, peso, cor, da pele, tipo do cabelo etc.), jamais
podem servir de justificativa ou desculpa para que alguém seja tratado com
esvaziamento de sua humanidade ou instrumentalizado para alcance de quaisquer
objetivos.
Nenhum ser humano é escada para que
alguém suba e chegue nalgum lugar; não é objeto para ser usado em favor de prazer
unilateral; não é fonte de energia (bateria) a ser explorada para produzir
lucro; não é massa para ser manobrada política, ideológica ou religiosamente em
favor dos interesses de instituições ou grupos. Compreender que a humanidade
inteira pulsa dentro de cada ser humano é comprometer-se a não compactuar com
todas as formas de instrumentalização das pessoas.
A instrumentalização do ser humano é
sempre imoral e vergonhosa. Inaceitável e eticamente escandalosa, pois
transforma em meio, um ser que nasceu para ser fim. O humano é fim em si mesmo.
Sua realização (felicidade em todas as dimensões do existir) deve ser o fim a
ser perseguido. Deve ser a meta almejada e passível de ser alcançada.
O reconhecimento da humanidade de
cada pessoa leva a outro compromisso: perceber e respeitar cada ser humano como
único. Nenhuma pessoa é igual a outra; cada pessoa, dotada da essência da
humanidade, é absolutamente ímpar, logo, não é lógico, não é racional, não é
sinal de inteligência esperar que os comportamentos individuais, os desejos, os
sonhos, a forma de pensar, crer e sentir sejam idênticos.
A imposição de padronização,
especialmente quando viola ou violenta a especificidade de cada ser, é
desumanizante, ou seja, fere a humanidade que pulsa no indivíduo. Cada pessoa
goza do direito de buscar sua realização a partir de suas características; cada
pessoa precisa ter as condições necessárias (oportunidades reais) para se
desenvolver a partir daquilo que julgar o melhor para si, sem ser decotada em
sua humanidade porque não se enquadra em padrões. O respeito à humanidade de
cada pessoa se materializa na aceitação da particularidade que individualiza e
identifica cada ser humano como único.
Os avanços e desenvolvimentos; as
teorias e interpretações, que ignoram a humanidade latente em todos e em cada
ser humano, é duvidosa, portanto, busquemos os caminhos de aperfeiçoamento que
não instrumentalizam as pessoas e que respeitem as características de cada ser
humano.