O ser humano é dotado de uma dimensão
de transcendência, ou seja, é da natureza humana o desejo de extrapolar os
limites e de buscar brechas na realidade para ir além das fronteiras que lhe
são impostas e, digamos com franqueza, isso é louvável e enobrece a existência
humana.
O Homem não se realiza e suas maiores
possibilidades não se afloram quando está demasiado preso a estruturas que
inibem sua liberdade e que podam sua capacidade de crescimento.
Por outro lado, a incapacidade de
lidar com limites ou sua completa inexistência também desumanizam o ser humano
e o inviabilizam. Faz parte dos elementos que caracterizam a natureza humana a
presença de referenciais que indicam até onde se pode ir; o que se é
recomendável; o que precisa servir como ponto de alerta ou até de parada para
as iniciativas e desejos humanos.
A lógica, portanto, que se deve usar é a do equilíbrio: Nenhuma estrutura
pode sufocar a criatividade humana tanto quanto nenhum discurso será legítimo
se defender que não há quaisquer limites a serem observados.
Nossa cultura já foi marcada por discursos explícitos que desqualificavam
e reprimiam a criatividade humana. Hoje, essas iniciativas são mais veladas,
mas continuam gerando obstáculos para o desenvolvimento humano.
O que predomina em nossos dias são os discursos liberais. De modo direto
ou indireto somos persuadidos a aceitar que tudo pode e que não há limites a
serem observados. Isso é tão ou mais danoso que os discursos repressores de
outrora, pois gera um clima falso de liberdade que não passa de um império do
individualismo e do egocentrismo.
Crianças, adolescentes, jovens e adultos precisam saber lidar com os
limites da natureza, da vida, do convívio social. Não se é possível exercer
liberdade sem levar em conta a existência de circunstâncias que, se não
consideradas, levam à desumanização ao invés de levaram ao alcance da
felicidade e da realização.
É bom insistir que a observância e o reconhecimento de limites valem para
todas as idades: Há pais e professores que reclamam que filhos ou alunos não
têm limites, mas é válido se perguntarem: como eles mesmos lidam com limites?
Há muitos que não dão conta de identificarem e vivenciarem seus próprios
limites.
Sem nos darmos conta, corremos o risco de extrapolar, de modo constante,
diversos limites que não geram benefícios como poderíamos imaginar: o tempo que
dedicamos à bebida, ao futebol na TV etc.
Mas essa preocupação precisa se dirigir a outros setores da vida e não
somente, como poderiam alguns pensar, a coisas negativas. É preciso limite para
o trabalho: há pessoas que trabalham além do razoável; é importante ter limite
até para o envolvimento em atividades comunitárias e religiosas: há pessoas que
exageram nisso deixando a desejar em outros setores da vida.
Por fim, a melhor forma de desenvolver
maturidade no trato com os limites que todos temos é o diálogo. Para o adulto,
o primeiro “diálogo” é consigo mesmo, ou seja, buscar conhecer as próprias
limitações e ser capaz de conviver com elas. No que se refere às crianças, o
diálogo deve ser capaz de estabelecer com clareza o que pode e o que não pode
ser feito, bem como de demonstrar que há tempo para tudo e que, portanto, as
coisas não precisam ser feitas sempre no momento que se deseja.
Um comentário:
Excelente texto!
Karla
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