Há uma tensão permanente entre o interesse social e o interesse
individual. Frequentemente os indivíduos buscam o alcance e a satisfação de
expectativas que contrastam com o interesse das coletividades, assim como é
muito comum que a implementação de objetivos coletivos esbarrem, direta ou
indiretamente, em anseios de pessoas ou pequenos grupos específicos da
sociedade.
As divergências entre o coletivo e o individual são, até certa medida,
esperadas e condizentes com a experiência social e isso não é algo recente, ao
contrário, é tão antigo como as primeiras sociedades, ou seja, desde a
organização das primeiras comunidades humanas há o real risco de controvérsias
entre aquilo que atende aos anseios de alguns indivíduos e supostos bens
coletivos.
É importante ressaltar que a existência de diversidade entre o individual
e o coletivo não é, por si só, um problema, mas pode se tornar um enorme problema
quando os discursos e as práticas institucionais passam a atender, a partir de
uma lógica de conveniência, mais àquilo que interessa ao individual que ao
coletivo.
O Estado e as instituições que buscam contribuir com a organização social
devem zelar para que os interesses dos indivíduos não massacrem ou violem, sem
fundamento moral e jurídico confiável, o bem coletivo. É necessário manter vivo
o princípio da supremacia do interesse público sem relativizá-lo por uma lógica
de conveniência transmutada em retórica a serviço do individualismo predatório.
O princípio ético segundo o qual não se pode deixar perecer a vida e a
dignidade que pulsa em cada pessoa que compõe a coletividade serve de
referencial para a busca de equilíbrio e de avaliação dos conflitos entre o
público e o particular. É mister buscar uma ponderação entre os interesses a
fim de que se defina, em cada caso concreto, a forma mais adequada de
preservação de cada fim. É urgente evitar falácias que fingem analisar a
realidade apenas para dar aparência de legitimidade à preservação do interesse
privado em detrimento do público.
Para evitar mal entendido esclarece-se que a saída não é o outro extremo:
o massacre do individual pela força do coletivo (ou como costuma se dizer, da
maioria). As individualidades, em sentido amplo, precisam ser protegidas e
garantidas, pois ignorá-las seria contraditório com a noção de coletividades.
Vale a pergunta: o que deve ser levado em conta nos momentos que formos
avaliar eventual conflito entre o respeito à coletividade e o interesse
individual? Pense e aja!
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