Além dos serviços que Estado deve prestar às pessoas vulneráveis da
sociedade, é interessante percebermos a solidariedade como caminho de promoção
humana e de amenização da dor e do sofrimento das pessoas que sofrem. Cada
pessoa pode colocar-se a serviço de seus semelhantes mais necessitados para levar
algum tipo de acalento, promoção ou ajuda.
A experiência da solidariedade, entretanto, não precisa ser vista de
forma muito ampla ou estrutural, ao contrário, pode ser percebida e vivenciada
de modo simples nas micro relações interpessoais, ou seja, as pequenas
oportunidades do cotidiano podem ser transformadas em momentos especiais de
vivência solidária e fraterna.
Somos solidários todas as vezes que aproveitamos a chance de fazer alguma
coisa para tornar a vida de alguém um pouco melhor; todas as vezes que nossa
ação promove algum tipo de transformação, ainda que momentânea, na vida de
alguém, especialmente quando a pessoa com quem nos solidarizamos encontra-se
fragilizada ou carente de algum tipo de bem que podemos compartilhar.
Muitas vezes o bem compartilhado não possui valor pecuniário
(financeiro), portanto, na maior parte das vezes a solidariedade não custa
investimento para quem a pratica; não exige desembolsar nenhuma quantia, pois
os gestos de solidariedade mais marcantes e significativos estão ligados às
coisas que não podem ser compradas ou pagas com dinheiro.
É bom esclarecer, contudo, que a solidariedade precisa da abertura e da
sensibilidade para fluir. Uma pessoa fechada em si mesma e endurecida por
quaisquer motivos tem muita dificuldade para vivenciar a proximidade que a
experiência solidária acaba por promover. É indispensável estar aberto à
possibilidade de fazer-se solidário; é necessário ter o coração e os olhos bem
abertos para “ver” a oportunidade chegando; é preciso manter aguçado o desejo
de colocar-se lado-a-lado com quem nos oferece chance de sermos solidários.
A sensibilidade é o outro fundamento da solidariedade. Quem consegue
desobstruir os canais da sensibilidade consegue perceber a dor e a carência de
quem está à sua volta. Sensibilidade é sinônimo de capacidade para sentir com o
outro; capacidade para compreender que a dor da outra pessoa é dor que dói na
humanidade, logo doeria em qualquer pessoa, inclusive em mim. Sensibilidade é a
decisão de rejeitar a indiferença com relação à vulnerabilidade das pessoas com
as quais nos encontramos ao longo de nossa trajetória de vida.
Na verdade, você não precisa se preocupar em ser solidário. Deve sim
preocupar-se em ser sensível e aberto às possibilidades que a vida te oferece
para ser o mais humano possível. A solidariedade virá como consequência destes
fundamentos, afinal, dificilmente alguém com abertura de coração e
sensibilidade perde a oportunidade de ser solidário com quem precisa de
solidariedade.
Por fim, vale lembrar que a solidariedade, por maior que se torne, nasce
do serviço simples e pequeno que marca as relações entre as pessoas. O que
torna um ato marcante, neste sentido, é o amor que exala e perpassa os gestos
de solidariedade que somos capazes de estabelecer nas relações interpessoais de
nosso cotidiano, por isso a micro solidariedade, ou seja, aquela que fazemos de
modo sutil e anônimo é um caminho.
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