Há muito se debate acerca das
atribuições do Estado. Correntes filosóficas, políticas, jurídicas, econômicas
etc. desenvolvem respeitáveis teorias sobre o tema; o senso comum, sem
compreender as razões fundantes destes debates, se esbalda no campo das
opiniões transformadas em verdades que se dogmatizam ao sabor dos discursos
mais oportunistas.
Parece não ser viável fazermos
uma avaliação das diversas possibilidades sobre o assunto sem considerar
algumas condições históricas; cada país vive um momento diferente no campo político-econômico-social,
portanto, as teorias devem ser tratadas com certa relatividade sob pena de se
tornarem esquizofrênicas ou fantasiosas.
Há
Estados que desenvolveram uma infraestrutura eficiente e capaz de permitir aos
indivíduos condições básicas de sobrevivência e competição, exigindo baixíssima
necessidade de intervenção governamental na gestão das questões sociais. Existe
segurança pública, saúde acessível (ainda que privada), transporte público
eficiente, educação satisfatória, empregabilidade etc. Nestes países as
preocupações do Estado com a vida particular das pessoas tornam-se mínima,
afinal, os indivíduos e suas famílias conseguem sobreviver (inclusive num clima
de livre iniciativa e competição) em condições mais ou menos igualitárias.
Por
outro lado, há Estados que não conseguiram, por razões diversas entre as quais
se destacam a má capacidade de gestão e a corrupção, implementar uma
infraestrutura que garanta igualdade de oportunidades para os indivíduos e seus
familiares, assim, se o indivíduo teve uma educação básica (ensino fundamental
e médio) de qualidade duvidosa, passando meses a fio sem professores de certas
disciplinas ou tendo aulas com professores mal remunerados e fatigados pelo
peso de jornadas diárias e semanais exaustivas de trabalho, não disputará uma
vaga na universidade pública em pé de igualdade com quem teve acesso a ensino
de excelente qualidade.
Ainda,
se um agricultor produz seus grãos em uma região completamente desatendida por
boas estradas, não conseguirá aferir os mesmos rendimentos com seu trabalho
alcançados por quem produz em região atendida por rodovias de qualidade e
proximidade com portos para escoação dos produtos; se uma pessoa não teve
acesso à água tratada e à alimentação equilibrada nos cinco primeiros anos de
vida e, em decorrência disso, cresceu desnutrida ou sub-nutrida, não terá a
mesma saúde e disposição que a criança que cresceu cercada de cuidados e com
boa alimentação.
O
Estado (e a sociedade) não pode fechar os olhos para a realidade e fingir que o
discurso de igualdade resolve problemas estruturais de desigualdade. O Estado
precisa intervir com estratégias capazes de superar as injustiças que vitimaram
as pessoas a fim de que elas possam competir com igualdade de condições. É uma
falácia achar que pessoas em condições desiguais e em desvantagens se encontram
aptas para progredir na vida sem que “alguém” ou seja, o Estado, lhes assegurem
que estão partindo do mesmo ponto.
O
Estado não deve ser conivente com as desigualdades que excluem as pessoas!
Um comentário:
Tanto criticam Marx mas aí está uma de suas ideias: igualdade material. Em suma, "tratar os desiguais de forma desigual para promover a igualdade". Parabéns pelo texto professor e por essa bela iniciativa de transmitir o conhecimento àqueles que se interessam.
Grande abraço!
Seu fã: Gabriel Teixeira.
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