Olá!
Desejo-te alegria e paz.
O filósofo Michel Foucault desenvolveu uma importante
teoria sobre o poder, a qual chamou de microfísica
do poder. Segundo essa visão as relações interpessoais estão sempre
marcadas pelo poder. Em outras palavras, o poder não se manifesta apenas nas
grandes relações estruturais/institucionais, mas perpassa as relações entre os
indivíduos mesmo que isso não seja feito de modo ostensivo e consciente.
Tomo a liberdade neste artigo para parafrasear,
respeitosamente, a ideia do filósofo Foucault trabalhando o conceito de micropolítica, entendendo por este conceito
a presença de inevitáveis conteúdos de natureza política inerentes às relações
que os indivíduos estabelecem entre si no dia a dia, nas relações informais, no
comprimento das tarefas do cotidiano.
Duas situações justificam e motivam a consideração da
micropolítica como proposta de
reflexão: 1) o reconhecimento de que no contexto social tudo é política, ou
seja, não é possível pensar qualquer ação social emanada do ser humano que não
tenha conteúdo e repercussão política. 2) o cansaço, visível em nossos dias,
quanto aos assuntos da política macro sistêmica.
Com relação ao cansaço generalizado com a política,
basta conversar com as pessoas ou analisar dados de pesquisas que tratam sobre
o tema. Há uma descrença coletiva no poder de transformação da sociedade por
meio das estruturas e instituições políticas, bem como desconfiança e desprezo
pelos políticos que atuam e representam tais instituições e estruturas. De modo
geral as pessoas estão cansadas e descrentes quanto à possibilidade de serem tratadas
com respeito pela política e pelos políticos.
Por outro lado, ainda é possível manter viva a
esperança quando consideramos que cada indivíduo exerce atividade política, ou
melhor, micropolítica. Não se trata, evidentemente, de uma esperança romântica
ou fantasiosa, mas de compreender que cada indivíduo tem a oportunidade de
fazer a diferença nas escolhas do dia a dia, sem a pretensão de transformar o
país inteiro com suas pequenas ações, mas consciente de que, nas inúmeras
experiências particulares ou dos pequenos grupos, as ações carregam conteúdos
políticos que podem ser bons ou ruins.
Os indivíduos, ao compreenderem que suas ações
individuais carregam conteúdos políticos, entendem que não é coerente esperar
bons resultados da macro politica enquanto agem desconsiderando os efeitos
negativos, ainda que menores, de suas ações individuais. Na verdade quem não se
dispõe agir de forma justa e respeitosa nas oportunidades mais simples do dia a
dia, perde a autoridade moral de exigir justiça e honestidade das pessoas e
instituições.
O indivíduo se torna, portanto, bom político quando
coloca em prática, nas ações do seu cotidiano, os valores morais e éticos.
Lembrando que bons comportamentos no campo da micropolítica decorrem da escolha
filme de cada indivíduo: são frutos de decisão pessoal. Não caem do céu.
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