Alegria e paz!
"O círculo da dominação se fecha quando a própria vítima do
preconceito e do abandono social se culpa pelo destino que lhe foi preparado
secularmente por seus algozes." (Jessé Souza).
Por mais estranho que possa parecer,
é muito comum, nas diversas formas de dominação, o sentimento de culpa por
parte de quem é dominado. Paradoxalmente, a vítima, embora padeça com as ações de
violência e crueldade de seu agressor, sente que está passando por aquela
situação de sofrimento por sua própria (e às vezes exclusiva!) culpa. A
constatação de que a vítima pode sentir culpa pelas violências que sofre leva,
entre outras, a duas possibilidades.
A primeira possibilidade é a
paralisação. O sujeito, sobrecarregado por uma culpa equivocada e
malcompreendida, sente-se desmotivado e incapacitado para reagir e para enfrentar
a situação que o vitimiza. Esta paralização, evidentemente, cumpre um papel de
manutenção do status, portanto, trabalha a favor do opressor e contra o próprio
oprimido.
A paralização gerada pelo sentimento
de culpa, muitas vezes, constitui objetivo esperado e planejado por quem atua
como opressor, pois a culpa é bastante poderosa no controle dos pensamentos,
dos sentimentos e das ações. Em outras palavras, o sentimento de culpa
experimentado por uma vítima, interessa muito a quem tem a expectativa de
manter o domínio sobre alguém.
Ademais, é bom esclarecer e insistir,
que a culpa paralisante não é produzida apenas de quem a sente, mas tem íntima
conexão com quem se beneficia dela, por isso é válido prestar atenção em
algumas ações praticadas por quem quer fazer o outro se sentir culpado: chantagem
emocional, acusação, transferência de responsabilidade própria para os outros
etc.
A segunda possibilidade é a reação.
Neste caso o sujeito descobre que não pode ser responsabilizado por estar sendo
vítima de uma situação de humilhação, dominação ou exploração; sente que está
injustamente acusado de ser autor ou coautor do próprio sofrimento; constata a
armadilha que o aprisiona no cárcere falso de uma culpa que não deve e não
precisa sentir.
A reação leva à recuperação da
autonomia do sujeito, ou seja, ele assume (ou reassume) as rédeas de sua vida e
reage às situações que levaram ao fatídico sentimento de culpa que não lhe
pertence; faz um movimento de libertação das correntes que o aprisionavam e separa
o que é responsabilidade própria daquilo que é responsabilidade de quem o
vitimizava. A reação é um movimento de apropriação da liberdade que humaniza e
dignifica; por meio deste movimento a pessoa encontra, ou reencontra, sua
verdadeira essência e saboreia um especial sentido de vida.
De mais a mais, é importante destacar:
a reação de alguém que vivia acabrunhado por uma culpa indevida não é bem-vista
por quem se beneficiava daquela situação, por isso é necessário ficar atento
para as reações: quem ama com amor saudável; quem quer o bem do semelhante; quem
não quer se beneficiar da desgraça alheia defende, incentiva e vibra com a
reação libertadora de quem se encontra condenado por uma culpa injusta e
perversa.
Escolha ser responsável por si e
abandonar as culpas que não são suas! Reaja!
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